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domingo, 1 de abril de 2007

Diversões Inglesas, George Du Maurier e a Punch!

Nessa postagem vamos ver alguns assuntos que despertaram a minha curiosidade em meio à pesquisa. Primeiro, as diversões dos ingleses; o que faziam eles no tempo livre?
Depois, temos três assuntos interligados: George Du Maurier, a revista Punch e as sátiras sociais promovidas por esses nomes (sendo que Maurier trabalhava na revista). Vamos lá!\o/

Diversão


Começarei pela música, afinal, era ela que mais aproximava e divertia os membros da sociedade inglesa. O interesse em música era tanto na Inglaterra que diversas cidades e vilarejos ingleses possuíam bandinha, coral e uma sociedade musical em geral. Como já foi citado no primeiro post, um dos requisitos para as senhoritas "casáveis" (como sinal de refinamento) era saber tocar um instrumento e até ter alguma habilidade com a voz... Isso porque, nas festas e jantares sociais, elas precisavam, de alguma forma, entreter os convidados. E por que não cantando?:D
Cantar era tão popular que existia pessoas que ganhavam a vida publicando folhetos com as letras de baladas românticas. Baladas são histórias em narrativa ou poema, com rimas e refrões - se com temas religiosos ou políticos, podem ser consideradas hinos. Basicamente eram historinhas de cunho patriótico ("Rule Britannia"), cômico ou poético ("Come Into the Garden Maud", por exemplo) musicados.
A popularidade dos "Music Halls" ("Salões de Música", traduzindo) se deve, além dessa paixão, ao fato de que a "sociedade de bem" vitoriana considerava muitas das idéias propostas no teatro pouco decentes... Sendo assim, a diversão mais prestigiada pelos homens ingleses era a ida a esses salões - atividade que durou até o fim da Primeira Guerra, quando foi substituída pelo cinema.
A dança, relacionada a, e decorrente da música, sempre fora praticada com sentido folclórico, de diversão e integração social entre indivíduos. A valsa (trazida de Viena por Johann Strauss) era a dança preferida pela classe alta, pela corte e, inclusive, pela Rainha Vitória, por ser elegante. Entretanto, danças folclóricas e tradicionais como as jig e as hornpipes eram muito apreciadas por todos. Um tipo de dança que estourou em 1840, tanto entre as classes ricas como as pobres foi a polca, dançada tanto nos jantares e reuniões chiques da alta sociedade, como nas tavernas e lugares freqüentados pela classe trabalhadora.

Senhoritas e seus dotes musicais.
"Airs and Graces", por Vernon Ward.

Homens "de bem" (leia aqui: "com dinheiro") podiam se divertir nos "jardins de prazeres", os Gardens, como Vauxhall e Cremorne - mulheres bem-criadas, contudo, jamais seriam vistas em um desses ambientes. O que acontecia nesses jardins? De tudo. Basicamente, comia-se, bebia-se, dançava-se, ouvia-se música, observava-se fogos de artifícios e pantominas. Além, é claro, da diversão com "mulheres decaídas".
Outra diversão masculina (da classe alta) era a caça à raposa. Pausa para a expressão da minha indignação.

Grrrrrr!
"Indignação", por eu mesma!

Ok, voltando ao assunto, Oscar Wilde definia esse "esporte" de uma maneira bem interessante: "a busca do incomível pelo indizível" ("the pursuit of the uneatable by the unspeakable")... O objeto de caça era o canídeo do gênero Vulpes porque o desmatamento havia tornado escasso o número de cervos, obrigando os perseguidores a procurar um outra alternativa. Uma vez que as raposas possuem hábitos noturnos, os caçadores, para início de conversa, tampavam todas as tocas a fim de manter os animais acima do chão. Depois, o que realmente acontecia era a perseguição de raposas por cães. Os ilustres cavalheiros/cavaleiros só seguiam seus animais de perto, e ainda montados em cavalos; dificilmente eles mesmos se utilizavam de uma arma.¬_¬
Falando em cavalos, as corridas de cavalos também tinham algum espaço entre as atividades dos ingleses do século XIX.

Os jardins de prazeres...
"The Dancing Platform at Cremorne Gardens", por Phoebus Levin.

Por último temos uma diversão bem "do povo": as feiras. Elas aconteciam em qualquer canto da Grã-Bretanha que tivesse população interessada. Vendia-se de tudo nelas, de comida a móveis e peças de vestuário e decoração. Mas a popularidade das feiras não se dava especialmente pelo fator "consumo". O que atraía pessoas a elas eram as atrações; o povo adorava (venhamos e convenhamos: em certos lugares, até hoje o povo adora isto...:P) as chamadas "aberrações", que nada mais eram que pessoas com malformações congênitas ou deformações adquiridas depois do nascimento (algumas vezes, justamente para poderem servir de "monstros" para os circos e feiras). Esqueletos ambulantes, obesos mórbidos, entre tantos outros. Aliás, existe um filme de 1980 chamado "O Homem-Elefante" ("The Elephant Man"), baseado na história verídica de Joseph Merrick (1862-1890), um cidadão inglês portador de uma doença rara (em 1976 acreditava-se ser neurofibromatose, mas estudos mais recentes dizem ser a doença a Síndrome de Proteu...) que havia provocado deformações em 90% de seu corpo, bem visíveis na cabeça, e por isso era tratado como aberração de circo. Sim, era isso que o "povão" apreciava nas feiras...¬_¬
E é por aqui que eu encerro as diversões vitorianas, para ir aos próximos assuntos.:]


George Du Maurier e a Punch


A revista inglesa Punch (Punch = Soco) é um ótimo material de retratação da sociedade vitoriana; mais do que o humor, a Punch investia em críticas políticas e sociais para existir. Foi idealizada em 1841 por Mark Lemon e Henry Mayhew, reunidos no Castelo de Edimburgo, com convidados da estirpe do jornalista Douglas Jerrold (com reputação de campanhas contra a pobreza) e John Leech, um estudante de medicina cujos desenhos haviam impressionado Mayhew. A revista foi fundada em 1841 pelos já citados Mayhew e Lemon, mais Joseph Stirling Coyne, que ajudou a financiá-la. Ainda nos anos 1840, vários membros da equipe já eram associados (amigos e conhecidos) do famoso autor Charles Dickens. A equipe colocava em suas revistas todo o cinismo com o governo, críticas à alta sociedade e ao modo como os trabalhadores eram tratados por seus empregadores. George Du Maurier começou a contribuir para a revista em 1860, integrando oficialmente a equipe em 1865.

Os ingleses se divertindo tristemente...:D
"The English Take Their Pleasure Sadly", por George du Maurier.

Mas... quem foi George Du Maurier?:D
Em 1834, nasce George Louis Palmella Busson Du Maurier (pequeno nome...), em Paris, França. Sim, na França - e foi isso que me chamou atenção... Bem, na verdade o escritor e ilustrador era filho de uma inglesa exilada na França pela sociedade, e neto de um francês trambiqueiro (por sua vez, fugido da França...), que, de tão trambiqueiro, acrescentou o "Du Maurier" ao nome para reforçar a idéia de seu "sangue aristocrático"... Aliás, George Du Maurier em pessoa cresceu em meio ao mito de que a sua herança genealógica remontava ao século XII. Tendo aprendido francês e inglês ao mesmo tempo, chegou a estudar Química na Inglaterra, embora tenha desistido rápido dessa carreira arranjada por seu pai, retornando à França e depois indo à Bélgica para estudar arte. Voltou a Londres em 1860 procurando emprego como ilustrador em revistas. Casou-se com Emma Wightwick em 1863, quando já estava crescendo profissionalmente como ilustrador e tornando-se reconhecido.
Seu trabalho na Punch rendeu uma coleção de mais de 130 desenhos sobre a sociedade inglesa. Bom, na minha opinião (que fique bem claro, porque não convivi com o cara pra dizer se é isso mesmo), acredito que o fato de ele ter sido francês pode ter sido um dos fatores que contribuíram para que seus desenhos fossem feitos criticando acidamente a sociedade inglesa, sem muito pesar. Afinal, tem a famosa e antiga rivalidade entre franceses e ingleses...

Feline Amenities, por George Du Maurier.
[Ilustração "Amenidades Felinas"]:
Srta. Tregushing - Oh, sim! Tem mares e céus tão adoráveis na Cornualha, além de rochas e cavernas, e as mais magníficas ondas que você possa imaginar, e...
Sra. Frou-Frou - Mas nenhum costureiro, eu suponho!


George Du Maurier também foi o autor de um best-seller da época: "Trilby". A protagonista da história, Trilby O'Ferrall, é uma linda garota meio-irlandesa trabalhando na França como modelo para artistas e lavadeira. Ela não tem absolutamente nenhum gosto musical ou habilidade para isso. Mesmo assim, o outro personagem memorável da história, Svengali, um vagabundo judeu, com ótimas habilidades musicais e um hipnotista irresistível, decide "enfeitiçá-la", transformando-a em uma diva aclamada, mas que só consegue cantar em transe, sob efeito da hipnose de Svengali. Quando Svengali sofre um ataque cardíaco em uma turnê de Trilby em Londres, ele fica incapaz de hipnotizá-la, e ela de cantar. Acredita-se que essa história tenha inspirado uma outra, tão famosa quanto, de Gaston Leroux: "O Fantasma da Ópera" (1909/1910).
Uma outra curiosidade sobre o autor e ilustrador: ele era pai de Sylvia Llewelyn Davies, mãe dos meninos Llewelyn Davies, que inspiraram o escritor J.M. Barrie a compor a famosa história de Peter Pan e da "Terra do Nunca" - relação que, aliás, é mostrada no filme "Em Busca da Terra do Nunca" ("Finding Neverland"), com algumas liberdades artísticas.

The Dancing Man of the Period, por George Du Maurier.
[Ilustração "Os Dançarinos da Época"]:
"Tens dançado ultimamente?"
"Dançado? Eu não! Tente me ver dançando em uma casa onde não há sala de fumar! Estou fora, certamente!"


Referências:
VictorianWeb.org - informações sobre a Punch e sobre George Du Maurier, além das imagens do ilustrador.
Fashion-Era.com - sobre diversões vitorianas e imagens que ilustram o tópico.
George Du Maurier - página da Wikipédia.
Trilby (novela) - página da Wikipédia sobre o livro.
Emma - A Victorian Romance - notas históricas sobre a caça à raposa.

Bem, por essa postagem é !\o/
Até a próxima, amiguinhos!xD

Jaa!o/

9 comentários:

Atarão disse...

gostei da expressão de indignação!

hehe

bjo!

Anônimo disse...

É triste verificar que, na sociedade atual, algumas futilidades dos séculos passados continuam presentes.A cultura do físico e da vestimenta continua em alta para algumas pessoas e hoje em dia a mídia se encarrega de girar os holofotes nessa direção,até mesmo porque é patrocinada por cremes que não deixam envelher, iogurtes que mantém o funcionamento dos intestinos em dia e até o não seja você mesmo temha o cabelo da fulana... sempre empenhados na distração das massas. Quando será que o "humano" vai falar mais alto dentro das pessoas, não permitindo que elas percam sua personalidade a ponto de ter que buscar terapeutas para poder encontrar a si mnesmas?

Paulo Vinícius Couto disse...

Ah, valeu pelo comentário! =D
acabei de ler quase todo teu blog agora, só faltou o tópico da classe alta, que eu leio depois... ficou muito legal mesmo. completíssimo... bah, bem mais completo que o meu.. =(
uhahuahuahua

e o meu sonho é ter uma orelhinha dessas de otaku, que nem a da foto do teu perfil, pra sair andando pela rua com ela
HUAHUAHAUHAUAHUAHUAHAUHA

Maru disse...

Mais uma vez: Anônimo = mãe (http://www.orkut.com/Profile.aspx?uid=17450262839675178656)...
:D

* cyanure // disse...

[série de comentários particionados ON]

Meu deus! Tu escreve hein? hehe xD
Bah to lendo aos pouquinhos, tá bem interessante! \o//

Mexeu com as raposas mexeu com a Luísa! heuehuhe Amei a ilustração da indignação! xDDDDDD

(L) Wilde!!!! (L) uhuhu (tri fã! xD)

Sec XIX, Wilde, Fantasma da òpera e Finding Neverland.. tudo isso num post só! que perfeito.. *suspiro* xDD

Olha lá! Ela me indicou no outro post! uhuhuhu thanks! thanks! thanks! xDD

[série de comentários particionados OFF]

aheoiheio
Adorei teu blog! Prometo organizar melhor meu comentário na próxima vez! ;D

Anônimo disse...

é o irmão da paula:
bah a nossa foto ta engr~çada mas a tua tambem ta muito engraça( aquela du perfil)
bom trabalho pra ti

Anônimo disse...

Vim parar aqui procurando informações sobre Cremorne Garden no Google... E dou de cara com outra fã de mangá, que legal! Gostei muito do seu blog... Você escreve muito bem! Já foi pros favoritos, admito. =)

Anônimo disse...

Achei seu blog quando fui no google procurar sobre "nomes de vilarejos ingleses" e como a comentarista acima, achei outra f� de mang� e anime! Tamb�m gostei muito do blog, li o post inteiro sobre a Inglaterra (tra�a texto)e confesso que amei! Parab�ns! Acabei lendo o seu perfil e me identifiquei muito. Tamb�m gosto de escrever... Ultimamente venho escrevendo fan fics sobre animes (n�o consigo manter um blog). Mais uma vez Parab�ns!

Anônimo disse...

hi, new to the site, thanks.