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quinta-feira, 8 de novembro de 2007

(In)Utilidades

Estou postando para avisar que o endereço do meu blog pessoal mudou. O Weblogger decidiu recadastrar todo mundo pra se atualizar e imitar a interface do Blogger; por conta disso, meu e-mail de login, que não era mais válido, não foi aceito e tal.
Bom, tudo bem, só assim pra eu mudar de template duma vez... E embora tenha ficado terrível de se ler as postagens, pelo menos esse é vizualizável em tela 1024x768, sem as falhas laterais.

O novo Kawaii Kitsune (já é o 3º) está disponível em http://abracearaposa.weblogger.com.br.

Abrace a Raposa!


Por enquanto é só!:)

Escute músicas do Eurovision.d^^b
Jogue Máfia.:O
E vote Machado de Assis!;D
"Ao vencedor, as batatas!"

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terça-feira, 17 de julho de 2007

Conclusões de Semestre

Trabaaalho!
Pra começar, o mini-epílogo escrito para a minha personagem, a única que, com toda a certeza, sobreviveu nessa história. Os outros... quem sabe?:)

Epílogo

Depois do fusuê no Café Le Procope, Charlie McNormand seguiu a sua vida quase normalmente - excetuando-se as seqüelas deixadas pelo evento e etc., mas, oras bolas(!), ela havia sobrevivido afinal!
A moça se casou com aquele primo do início da história, publicou vários contos e crônicas, além de pequenas contribuições jornalísticas, e resolveu abandonar o ultra-romantismo, pois, segundo as suas próprias palavras: "Uma coisa é ser melancólico, rebelde e entediado - sem causa alguma - na puberdade. Outra coisa é, ao término da juventude, continuar com esse pensamento, sendo que já não nos resta mais tanto tempo assim de vida para perder pensando nessas tolices...".
Charlie pode ter abandonado o ultra-romantismo, mas este certamente não a abandonou: a moça morreu tísica (ou "de paixão", como preferir) aos 26 anos, sem deixar herdeiros.

Fim.

Esse final de história não teve consulta ao grupo. Ou seja, eu só fiz porque queria matá-la também. >:D
Só que de algo "mais século XIX" do que assassinato: tuberculose. Mais informações? Clicando aqui, vocês encontram informações bem interessantes.:)


Conclusões de Fim de Semestre


Ahhh, onegaaaaaaai...

Esse trabalho do blog não é muito popular entre os alunos. Sendo sincera, porque não é mesmo...
O caso é que muitos ainda acham que ele não serviu para nada, afinal, "blog não cai no vestibular", "não aprendi nada com o meu blog", etc. Que pena.
Eu particularmente gostei de fazer essa atividade, mas como adoro ficar no computador, escrever, trabalhar com imagens, com HTML e tal, sou suspeita pra falar. o>
Além disso, contrariando todas as expectativas, sim, eu aprendi com a minha própria pesquisa.

Sobre comportamento na Inglaterra do século XIX, por exemplo. Quem diria que em um século de tantos avanços científicos e tecnológicos as pessoas ainda se deleitariam com uma coisa retrógrada (eu chutaria Idade Média pra menos...) e absurda como o circo de aberrações? Quem diria que o mesmo homem que dava um ponto final (quer dizer, mais pra ponto-e-vírgula, mas...) na escravidão negra criava uma forma de trabalho quase tão degradante quanto ela nas indústrias? Quem diria que um ser humano tão mais "racional" ainda conquistaria territórios e mentes através de guerras (como, aliás, ainda é feito até hoje...)?
Além do mais, pesquisando sobre toda essa coisa de comportamento, descobri uma criatura particularmente curiosa (em um adendo particularmente inútil para o meu trabalho...^-^'), a qual não pude deixar de comentar em uma postagem: George du Maurier. Vocês têm idéia de quem ele foi? Já ouviram falar? Pois é.:)

A segunda parte do meu trabalho não valeu nota alguma (fiz logo depois das primeiras AEs do ano), mas acho que eu teria perdido um pedaço se não a tivesse feito. O Japão no século XIX, claro!
Na verdade, eu me aproveitei do espaço, do fato de que ninguém conhece a História geral do Japão, e de que ninguém leria meu longos posts de qualquer maneira, para acrescentar fatos anteriores ao século estudado. Ohohohohohohoho...:D
E eu não aprendi nada disso tudo? Aprendi tão bem que voltei a ler um mangá cuja história me confundia até hoje com os seus fatos da História japonesa. Até dei a dica para o Senhor Ninguém, indíviduo que freqüenta assiduamente esse bloguxo; o mangá saiu no Brasil faz tempo, assim como o anime, embora a qualidade da dublagem e a censura tenham tirado boa parte do brilho original dele. Refiro-me a Samurai X - no japonês, Rurouni Kenshin. Também agora vejo os filmes e tudo mais que abordam certos períodos no Japão com uma clareza maior.

É, isso tudo pode não ser tão útil assim naquela prova da UFRGS. Fazer o quê?
E eu diria que quem não tirou nada dessa trabalheira toda definitivamente não fez sobre um assunto que gostava, ou fez sobre um que fosse mais fácil de pesquisar, a fim de ganhar uma nota. Ou então o fez sem crer no que estava escrevendo, acreditando que a pesquisa era inútil, que a idéia de procurar conexões de assuntos que se gosta com o século XIX é uma tremenda baboseira.
Baboseira é acreditar que um texto na internet difere de um impresso e entregue. O que mudaria? Haveria uma data de entrega, uma avaliação e uma nota de qualquer modo. A professora muito provavelmente seria a única que leria os trabalhos. A digitação teria que estar dentro das normas da ABNT? Francamente, perguntem a todos os professores no colégio quantos deles mesmos e quantos dos alunos ligam para essas regrinhas a ponto de (se) cobrarem ferrenhamente o uso delas...

O que a Internet tem de diferente? Você podem usar emoticons ("carinhas"), o que não é grande coisa, pois eles deixam um texto teoricamente sério com cara de palhaço. Mas e daí?:)
De um modo geral, todos os recursos podem ser usados para tornar o esses longos parágrafos mais divertidos e passíveis de serem lidos, além de mais pessoais. Isso ferra com a credibilidade de um texto? Bom, depende do seu ponto-de-vista. Eu particularmente acho que inteligência e bom-humor devem andar lado a lado... Fora que, aqui na Web, todo mundo lê a sua versão do que já é contado por inúmeros livros e fontes extra-Wikipédia. Os outros professores curiosos lêem, os seus pais lêem, os seus futuros chefes lêem, o seu macaco de estimação lê, entre outros. Claro que a possibilidade de todo esse povo ler é muito pequena - como no meu caso, em que nem meus colegas de grupo se dignam a ler. Mas pelo menos possibilidade.

Sem mais, já dei o meu discurso. Como ninguém se presta a ler, eu escrevo mesmo. Assim eu desabafo e aumento as chances de alguém passar por aqui. Afinal, fofoca, notícia ruim e convite ao linchamento, se meus cálculos estiverem corretos, se espalham rápido.\o/


Fériaaaas!

Boas férias, porque no fim das contas, nós merecemos!;D
Jaa!o/

sábado, 23 de junho de 2007

O Caso dos Cinco Branquinhos

["Essa galerinha vai aprontar todas!"]
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Capítulo I - O Crime, Os Suspeitos
Foi em uma pálida manhã de outono que Jean Battisti foi chamado pela polícia para fazer o reconhecimento de dois cadáveres: o de uma jovem mulher e o de um menino. O bárbaro crime chocou a sociedade parisiense, em especial os estudantes da Universidade de Paris, onde os corpos haviam sido encontrados. Eram eles de Giovanna e Josep Battisti, esposa e filho do pobre homem, respectivamente.

Todos cobravam justiça pelo ocorrido. A polícia, após muito tempo de investigações inúteis, resolveu prender o único suspeito que tinha em mãos: o próprio Jean, ainda em choque com o que havia visto na cena do crime.

Fosse Jean Battisti um homem comum, um pé-rapado, teria apodrecido na prisão ou morrido pela pena capital. Entretanto, o homem era o atual dono do café mais aclamado e adorado de Paris, Le Procope. Poderosos, ricos, intelectuais, toda a efervescente nata da sociedade - francesa e mundial - freqüentava "o melhor café e sorvete da cidade". Sendo assim, dois meses após o ocorrido, Jean Battisti foi libertado. Agora um homem amargurado e sedento de justiça, ele decidiu reabrir o café.

Le Procope era o ponto de encontro de cinco jovens de diferentes origens, que haviam se conhecido antes de o dono do café ser preso e ter que fechá-lo por prazo indeterminado. O grupo era composto pelo norte-americano Indrid Cold, universitário integrante de uma organização incipiente em sua terra natal; também pelo brasileiro (gaúcho) Adão, estudante da mesma universidade que o primeiro citado freqüentava; por David, um nobre inglês sem ocupação interessado em poemas melancólicos; assim como por Charlie, uma escocesa que se disfarçava como rapaz para ser levada a sério pela sociedade literária masculina. Completando a mesa 5 - a tradicionalmente ocupada pelo grupo -, ao final do expediente, surgia Annabelle, francesa de origem humilde, empregada no café, trazendo um ponto de vista mais realista sobre os assuntos.

Após a reabertura do Le Procope, essas pessoas retornaram ao lugar para apoiar Jean naquela difícil situação. A verdade é que o dono do café não era mais o mesmo - e já não tinha tanta confiança naqueles jovens como antes...

Acabou o assunto, vamo embora?

segunda-feira, 21 de maio de 2007

O Singular Mundo de Charlie McNormand

É, eu não pintei! E daí, vai encarar!xD
Futura Condessa de Plainfield. Ou não.
Nascida em uma noite de 5 de Janeiro (1850) de vento e neve, Charlenne McNormand era filha do Conde de Plainfield, nobre já vivido e um pouco decepcionado pelo fato de que, pela segunda vez em sua vida, perdera a chance de arranjar um herdeiro do sexo masculino, legítimo, de seu nome e título.
Já em tenra idade, Charlie, como foi apelidada pelos mais íntimos, apresentava estranhas características incomuns às meninas - e, dependendo, até a meninos... Como o gosto estranhamente acentuado pelo paranormal e pelo mórbido em geral. Ao invés de fugir de rãs e cuidar de passarinhos feridos, a menina preferia abri-los e dissecá-los. A família também se preocupava com a sua mania de passar noites em claro, uma vez que isso prejudicava as suas visitas diárias às casas de outros nobres, além de deixá-la com marcas terríveis sob os olhos, apenas corrigidas com muita maquiagem...
Em sua festa de apresentação à sociedade, declamou um poema por ela escrito, sobre "a morte, a fugacidade da vida e a necessidade de aproveitar os momentos de forma intensa, sem levar em conta as correntes da sociedade moderna". A partir daquela data, sempre que a lista de convidados de uma festa ultrapassava o número cabível ao orçamento, Charlenne era a primeira riscada.
Era tida como uma garota inteligente, afinal sabia cálculos um pouco mais difíceis do que os ensinados por sua tutora - além de falar francês fluentemente e inglês melhor do que muitos ingleses... De fato, a moça tinha significativa participação na contabilidade da casa. Por conta disso, sabia ela que a sua rica família se encontrava à beira do abismo da decadência, principalmente por culpa dos dispendiosos bailes organizados por sua mãe.

Quanto à vida amorosa, os poucos pretendentes que lhe apareciam (e não desistiam) eram dispensados rapidamente, para desespero do seu pai.
Trocava correspondências com um primo que residia em Paris, John Dorian. Aliás, era esse mesmo rapaz que lhe havia dragado para o mundo obscuro do ultra-romantismo; era ele quem lhe mandava poemas e contava as maravilhas e os dissabores da juventude parisiense. Também discutiam política, Literatura e música através dos escritos, como velhos amigos. Ele prometera ensinar bridge à prima, assim que ela viesse visitá-lo, assim como fariam uma sessão de piano juntos, uma vez que ambos tocavam.

Aos 18 anos, Charlenne convencera ao pai de que, tendo em vista a decadência financeira da família, seria interessante mandá-la a uma "universidade para moças" que existia na França e iniciava mulheres no mundo dos negócios. Evidentemente que tal coisa não havia nem na França, nem em qualquer lugar do mundo... Mas seu pai, pouco informado acerca disso, concordou em mandá-la para Paris. A resistência maior foi a sua mãe (menos informada que o pai), que só se tranqüilizou com a promessa da filha de não abandonar as visitas diárias, e criar laços com as nobres francesas...
A única exigência da garota teria sido a companhia do mordomo, James Sullivan, 30 anos de serviços a família McNormand, única pessoa disposta a apoiar incondicionalmente, inclusive em suas bizarrices românticas, a senhorita McNormand. Ambos ficariam na casa do tio de Charlie, August, pai daquele mesmo John Dorian com quem a moça se correspondia. Sendo o tio um professor universitário, a garota, que já havia combinado tudo, aprenderia com ele o que os garotos aprendiam na universidade, incluindo o latim e o grego.

A verdade é que a iniciação de Charlenne na boêmia francesa não foi tão glamurosa quanto o esperado por ela...
Seu livro de crônicas foi recusado por todas as editoras as quais havia ido, pois, vindo de uma mulher, não falava sobre "coisas femininas", de maneira que sua publicação não parecia viável.
Também sua primeira visita a um legítimo café francês (tão comentados pelo seu primo) havia sido decepcionante. Ao tentar iniciar contato com um grupo de jovens, aparentemente intelectuais, foi repelida, pois era, segundo os rapazes, "feia demais para uma meretriz" e "pouco masculina demais para ter qualquer opinião". Além de que, claro, não trazia bebidas como as garçonetes...

Questionando seu primo sobre as más experiências, este, pasmo, disse que nunca havia tido tais problemas, como homem. A partir da última porção da afirmação do rapaz, Charlenne entendeu qual o problema com as suas vontades e ações. Aos olhos de todos era "só uma mulher".
Pois, então, agora seria homem, pensou. O homem que assinava os livros de crônicas e poemas e que também freqüentava cafés, sendo normalmente bem recebido e estimado por intelectuais, era conhecido como Charles McNormand, o Charlie.
Alguns sabiam ou desconfiavam do real sexo do "escritor, poeta e boêmio". Mas muitos nem sequer comentavam sobre isso, uma vez que em certo ponto das conversas esse detalhe pouco importava. E era mais divertido vê-la gastando energia, tentando bancar o homem...:)

Aos 19 anos, em 1869, Charlenne encontrou, no Café Le Procope, um determinado grupo de jovens de múltiplas personalidades, nacionalidades, e com opiniões distintas.
Nesse cenário, os personagens que o freqüentavam iriam desencadear algumas discussões e situações.

[Outros personagens nos blogs de:
Luis Felipe (David Waters), Paula (Annabelle Deneuve), Real (Jean Battisti), Atarão (Adão Luis) e Bertarello (Indrid Cold Power Hill).;D
EDIÇÃO: Imitando a Ju Mêes, que teve a brilhante idéia de associar músicas à sua personagem, também tenho algumas para caso alguém se interesse pelo processo de composição da Charlie...
A primeira é relativa à idade dela, àquela fase de vida: 19-Sai, do cantor Shikao Suga (em japonês - vocal masculino). A segunda é tirada de uma trilha sonora, e acho que complementa o visual da época: Quasi Charleston for piano and violoncello, da compositora Hirano Yoshihisa (instrumental). A terceira é a que fala mais sobre a personalidade dela: Little Miss, do grupo Bôa (em inglês - vocal feminino). E a última não fala sobre nada em especial, mas eu estava escutando enquanto escrevia (^^'): Künstliche Welten, do grupo Wolfsheim (em alemão - vocal masculino). É isso! Escutem se puderem!;) ]

Versão feminina X Versão masculina.
Que lixo, hein!xD

domingo, 20 de maio de 2007

Representações do Japão

Como não falar de como a História do Japão é retratada atualmente?:D
Saindo um pouco do meio acadêmico e passando por Literatura e Cinema, existem diversas obras que nos ajudam a compreender um pouco (ou suscitam mais dúvidas, mas enfim...^^') sobre esse país que é, aos olhos de muitos, exótico.
Vou iniciar pelo produto estrangeiro, que é o mais consumido, inevitavelmente...

O Fim!
Perto do fim!
O Último Samurai ("The Last Samurai") pega justamente o período inicial da Era Meiji, com um Japão se modificando a todo vapor, com aqueles costumes antigos sendo abolidos e recriados, com as pessoas tendo que se adaptar à ocidentalização do país. Uma curiosidade sobre o filme é que, apesar de deixar implícito que os soldados japoneses foram inicialmente treinados por norte-americanos, na História real, quem os treinou foram os prussianos (alemães). E, bem, é óbvio que em "O Último Samurai" dá a entender que a modernização do Japão trouxe vícios comuns à sociedade ocidental: dinheiro, sede de progresso, etc. E é verdade. Mas também é verdade que samurais como o Katsumoto (Ken Watanabe *¬*) não eram a constante no Shogunato. Os samurais eram cobradores de impostos, alguns respeitados porque seguiam efetivamente o bushidô (código de honra), mas também havia bastante corrupção e abuso de poder. Então, não devemos ver tudo isso com ingenuidade e acreditar que teria sido melhor o Shogunato continuar. Complementarei isso quando falar de Samurai X...;)

Taka e Katsumoto.
Koyuki e Ken Watanabe, em O "Último Samurai".
Shogun também é uma obra (no caso um livro dividido em 6 edições que foi transposto em forma de série para a TV) produzida no Ocidente. Escrita por James Clavell, é anterior ao filme acima, tanto em data de lançamento (1975), como em época histórica retratada (Japão feudal, por 1600). A história trata do inglês John Blackthorne, capitão de um navio holandês de comércio, que acaba sendo capturado pelos japoneses. Bem, após muitos acontecimentos, Blackthorne (nomeado Anjin - "piloto" - pelo pessoal nipônico que não conseguia pronunciar o nome dele...:D) acaba assimilando diversos costumes, e inclusive aprendendo um pouco da língua. Assim, ele ganha respeito e, ao mesmo tempo, aprende a respeitar aquele povo tão diferente. Só pude ler um pedaço do segundo livro da série (>.<), mas já o adorei pelo fato de os personagens utilizarem efetivamente palavras e frases em japonês, além de que é possível também descobrir mais detalhes sobre a cultura do lugar. A série de TV foi lançada em 1980 e teve como intérprete do capitão Blackthorne o ator Richard Chamberlain (o mesmo de "Pássaros Feridos", pra quem assistia a série no SBT...xD), além de um aclamadíssimo ator japonês, Toshiro Mifune, representando o senhor Toranaga, personagem que seria a representação de... Tokugawa Ieyasu!\o/

Poster da minissérie.
"Shogun", de James Clavell.
Agora, do ponto de vista japonês, um dos diretores mais aclamados do meio foi Akira Kurosawa, com seus filmes sobre samurais e honra.
Com extensa filmografia, influenciou diretores norte-americanos e europeus, além de ter sido também influenciado por eles. Entre vários excelentes filmes - Rashomon, Os Sete Samurais, Yojimbo, Sonhos -, vou falar sobre os que vi sem me estender muito.
O primeiro, Ran ("Caos"), é baseado em uma peça de Shakespeare, Rei Lear. Conta a história de um senhor feudal do século XVI no Japão que resolve dividir os bens entre os filhos. Entretanto, assim como na peça do dramaturgo inglês, os filhos mais velhos decidem guerrear entre si achando que merecem mais que os outros irmãos; o mais novo deles, tentando se manter fiel ao pai, é banido por este e por seus irmãos. O interessante de ver a transposição dessa obra clássica para o cinema japonês, é que a história se presta perfeitamente à época e mesmo ao lugar onde se passa. Também é bom observar a participação da esposa de um dos irmãos na batalha; mais do que uma simples figura secundária, ela aparece como uma perfeita manipuladora, fator importante para o desenrolar do filme.
O segundo filme que assisti foi Kagemusha ("A Sombra do Guerreiro"). Esse filme é baseado numa situação e numa personagem histórica: a Batalha de Nagashino (1575) e o daimyô Takeda Shingen. Novamente aparece aí o Tokugawa Ieyasu. É ele adora aparecer...:D
O daimyô Takeda Shingen, de um clã frágil, com necessidade de uma figura forte, está a beira da morte em um momento crítico e sabe disso. Se seus soldados não tiverem a sua figura para manter o espírito de luta, a guerra contra Tokugawa e Oda (duas figuras históricas, wow!) estará perdida. Eis que surge um ladrãozinho barato e sem honra nenhuma...:P
Só que o detalhe é que ele é simplesmente IGUAL ao daimyô morimbundo. Pelo menos em aparência... Para escapar de ser condenado e morto, ele tem que se submeter a um treinamento para se passar por Shingen; mas com a morte do senhor feudal, esse treinamento tem que acontecer "na marra". E assim acontece a verdadeira incorporação dos ideais e atitudes de um digno daimyô em um reles bandido, agora seu kagemusha...
Bem, ainda falta muito para que eu me torne expert em Akira Kurosawa, mas só pelos filmes que vi, recomendo que vocês assistam algo se têm interesse em Japão.:)

O irmão, Shingen e o kagemusha...
Cena inicial de "Kagemusha", em que um ator interpreta dois personagens.
Através dos mangás, é evidente que a História japonesa já foi retratada, da mesma forma...;)
Eu já falei de Vagabond, que conta a história de Miyamoto Musashi de forma romantizada, baseando-se em um romance de Eiji Yoshikawa sobre o mesmo personagem.
Agora, um dos mangás em que é mais evidente essa história de Era Meiji e batalhas de Restauração Meiji, é Samurai X - como ficou conhecido aqui no Brasil o mangá Rurouni Kenshin: Meiji Kenkaku Romantan ("Andarilho Kenshin: Crônicas de um Espadachim da Era Meiji"), ou só Rurouni Kenshin, de Nobuhiro Watsuki. Sim, o anime de Samurai X foi passado inicialmente pela Rede Globo em 1999 (evidentemente com a censura pegando pesado nos cortes das cenas de sangue...), depois passado e repassado pelo Cartoon Network. O mangá foi publicado pela editora JBC a partir de 2001. A verdade é que devido à época em que o anime foi passado, a qualidade da dublagem era péssima (com erros grosseiros de pronúncias dos nomes, por exemplo) e os cortes feitos, até hoje um problema evidente na exibição de animes aqui (e também nos EUA), constituem um fator que prejudicou seriamente o entendimento da história...
Parênteses: o próprio título sob o qual a história ficou conhecida no Ocidente é equivocado. Kenshin não é, e nunca foi um samurai. Ele era um retalhador, um assassino que lutava por uma milícia específica (a da Restauração), não por um daimyô. Provavelmente, na hora de transformar o anime em algo que pudesse ser vendido para e assimilado por ocidentais, as empresas resolveram colocar um "samurai" no título, a fim de que o público soubesse de cara "ah, então é japonês!"...>.<
Bem, a história fala sobre um andarilho (!) que costumava ser um cruel e eficiente retalhador nas batalhas da Restauração Meiji, lutando pelos monarquistas ou restauradores. Cortando o papo, vou colocar aqui o texto da primeira página do mangá nº 1 e explicar:
"Há 140 anos, quando Kyoto estava no centro do turbilhão caótico chamado Bakumatsu ('Final do Xogunato'), criado com a chegada dos Navios Negros, havia um paladino da Restauração chamado Battousai, o Retalhador.
,Battousai era o espadachim mais poderoso e retalhava pessoas promovendo verdadeiras carnificinas e limpando o caminho para uma nova era, a Era Meiji.
Mas logo depois do tumulto ele sumiu repentinamente.
Enquanto seu desaparecimento continua um mistério, o nome Battousai, o Retalhador, tornou-se uma lenda. E estas crônicas se iniciam no ano 11 da Era Meiji (1878), em Shitamachi, Tokyo..."
Ok! Lembrando que Kyoto era capital, e Bakumatsu é a maneira a que os japoneses se referem ao fim do Shogunato (sinônimo de bakufu, "governo militar"). Mas o que eram os Navios Negros (Kurobune)? Simplesmente, os navios estrangeiros. A expressão Battousai, embora não ficasse tão interessante se traduzida para o português, tem um significado: mestre no Battoujutsu, técnica de espada.
Bem, agora vamos ao mais interessante! O personagem Kenshin Himura, protagonista da história, foi baseado em um hitokiri (retalhador) de verdade, chamado Gensai Kawakami, considerado um dos quatro maiores Hitokiris do Bakumatsu. Na verdade, o mais frio e temível dentre os quatro. Uma coisa curiosa é que Gensai era descrito como sendo "baixinho, magro e gentil o bastante para ser confundido com uma mulher". Mas, na História com H maiúsculo, após a Restauração, o Retalhador se desentendeu com o governo (ele era xenófobo, e lembrem-se que a Era Meiji foi a era da ocidentalização...) e foi executado por um crime que não cometeu no 4º ano da nova era (1871). E é aí que entra a inventividade do autor de Rurouni Kenshin...:) Depois do próprio Kenshin, é bom observar a quantidade de ministros de verdade que aparecem na história. Assim como as mílicias importantes que apareceram no Bakumatsu, como a Shinsengumi (que lutava pela continuação do regime de Shogunato). Inclusive, um dos personagens principais, Hajime Saitou, foi integrante dessa milícia - embora, o autor do mangá tenha admitido que modificou bastante a personalidade dele para encaixá-lo à história... Bom, agora eu disse que ía complementar o que falei sobre "O Último Samurai". Na verdade, vou deixar que o próprio autor do mangá, Nobuhiro Watsuki, diga qual é a idéia (que aliás se aplica à praticamente toda História):
"Uma coisa que eu percebi: ultimamente, vejo algumas cartas dizendo 'eu adoro o Shinsengumi! Como eu odeio os Monarquistas!" e outras dizendo o contrário, como 'não acredito que pode ter gente que goste do Shinsengumi! Eles não foram nada mais do que cachorros a serviço do Shogunato!'. Por aí dá pra ver que tem pessoas que gostam só do Shogunato e odeiam os Monarquistas e outras que são fãs dos Monarquistas e detestam o Shogunato. Olha, pra ser sincero, eu acho que isso é um desperdício. Acho que o interessante desse período do fim do Shogunato e da Restauração Meiji não é o conflito entre facções e ideologias, mas sim o fato de que cada pessoa viveu esse período de acordo com o seu próprio ideal. (...) Peço para as pessoas que se interessaram por esse período da História do Japão ao lerem Rurouni Kenshin: tenham uma visão mais ampla para poderem aproveitar mais das histórias dessa época. Afinal, o fim do Shogunato e a Restauração Meiji só existiram porque existiram o Shogunato e os Monarquistas, certo?"

Dois integrantes da Shinsengumi contra o monarquista Battousai.
Hajime Saitou (da Shinsengumi) contra Kenshin Himura (da Restauração). Ao fundo, Souji Okita (Shinsengumi), que mestrou um estilo de luta aos 18 anos e morreu tuberculoso aos 25.
Assim concluo meu trabalho sobre História japonesa, século XIX no Japão, etc., etc., etc. Obviamente, só por conta da minha paixão pelo país e sua cultura extendi os posts além da conta e cansei os meus (não-)leitores. E falaria muito mais! Se minha consciência não gritasse que não vai dar tempo de postar sobre a próxima parte do projeto de história...xD
Mas fica pra outra.;)
Para encerrar, aqui vai a incursão INÚTIL do meu personagem favorito de Samurai X, Soujirou Seta (baseado, aliás, no personagem real de Souji Okita), assassinando outro personagem histórico, o Ministro do Interior no governo Meiji, Toshimichi Ookubo. Scanneado por mim!\o/

Seta Soujirou versus Toshimichi Ookubo!\o/
"Eu acho que uma pessoa que vai morrer agora não precisa se preocupar com o futuro do país."
Referências do Trabalho:

Sites
Samurai - Verbete da Wikipédia (Português).
Período Edo - Verbete da Wikipédia (Português).
Meiji do Japão - Verbete da Wikipédia (Português).
Akira Kurosawa - Verbete da Wikipédia (Português).
Ran (filme) - Verbete da Wikipédia (Português).
Os Sete Samurais (filme) - Verbete da Wikipédia (Português).
Ukiyo-e - Verbete da Wikipédia (Português).
Samurai X - Verbete da Wikipédia (Português).
Sonhos (filme) - Verbete da Wikipédia (Português).
Shogun (livro) - Verbete da Wikipédia (Inglês).
Rashomon (filme) - Verbete da Wikipédia (Inglês).
Yojimbo (filme) - Verbete da Wikipédia (Inglês).
Kagemusha (filme) - Verbete da Wikipédia (Inglês).
Japan Corner - Imagem das japonesas ao piano, informações.
Nippo Brasil - Linha do tempo, informações sobre História.
Made in Curitiba - Informações sobre Musashi.
História do Japão - Simplesmente de onde tirei 80% do material desse blog, altamente recomendado!
Japão Online - História do Japão, cultura japonesa...
Bushido - Figuras e informações sobre kamikazes e sobre o ukiyo.
3yen - Figura linda do castelo de Osaka na primavera...^^
GivernyNews - Pinturas de Hiroshige e Van Gogh.
The Last Samurai at IMDB - Ficha técnica, atores, curiosidades, etc. Em inglês.
Shogun at IMDB - Ficha técnica, atores, curiosidades, etc. Em inglês.

Material Impresso
- Fundação Victor Civita. "Grande Enciclopédia Larousse Cultural Vol. 14"; págs. 3305-3316. 1995: Nova Cultural.
- WATSUKI, Nobuhiro. "Rurouni Kenshin Vol. 1", pág. 7. 2001: Japan Brazil Communication (JBC).
- WATSUKI, Nobuhiro. "Rurouni Kenshin Vol. 8", pág. 55. 2001: Japan Brazil Communication (JBC).
- WATSUKI, Nobuhiro. "Rurouni Kenshin Vol. 14", pág. 81. 2001: Japan Brazil Communication (JBC).

Na próxima edição, a primeira etapa da próxima tarefa: elaboração de uma personagem para incluir em um romance histórico... Ou algo assim (!)...
Jaa!o/

sábado, 19 de maio de 2007

O Japão e o Século XIX (III)

Ainda não acabamos!
Só mais um pouquinho...
Bem, chegamos na Era Meiji, o verdadeiro século XIX no Japão.
Como vimos, o poder foi devolvido ao Imperador. Nessa época, muitas mudanças ocorreram, porque agora os portos estavam abertos ao mundo ocidental e, conseqüentemente, às ideologias e tecnologias do outro lado do mundo.
Foram abolidos os feudos e estabelecidas as províncias. O Liberalismo foi introduzido, e ocorreu a tripartição do poder (Legislativo, Judiciário e Executivo foram criados); o serviço militar não era mais um "privilégio" de nobres, mas uma obrigação de todos os cidadãos japoneses. Foram criadas escolas, e o curso primário se tornou obrigatório. Os movimentos democráticos começaram a surgir - agora que o Japão tinha tido contato com essas idéias de direitos do cidadão -, e, embora inicialmente abafados, logo o governo foi forçado a promulgar uma Constituição (1889), ainda que, curiosamente, ela concedesse plenos poderes ao Imperador...

Mutsuhito, interpretado por Nakamura Shichinosuke.:)
O Imperador Meiji... Ahn, bem... Pelo menos em "O Último Samurai"!xD
Em relação a costumes particularmente nipônicos, também houve uma grande modificação, já que havia um grande desejo, por parte de muitos, de ocidentalizar o Japão... Como por exemplo a proibição do uso de espadas; só quem podia portá-las eram os policiais, e olhe lá... Andar a cavalo, algo que somente nobres podiam fazer, ficou liberado para toda a população. O sobrenome, antes exclusividade dos samurais, foi adotado por toda a população a mando do governo. Também sob ordem do dito-cujo, a população masculina foi obrigada a cortar o cabelo (ao invés de andar com aquele corte bizarríssimo dos samurais...), no melhor estilo Colégio Militar ("vai cortar esse cabelo, aluno!"=D). A servidão acabou, e leis rigorosas sobre a compra e venda de seres humanos entraram em vigor. O casamento entre classes diferentes e até estrangeiros e nipônicos ficou liberado. Houve até quem defendesse de forma ferrenha o "cruzamento com estrangeiros" (que coisa mais animalesca, cá entre nós!o.õ) como forma de melhoramento da raça nipônica...:O

Japonesas e um piano.
Mulheres japonesas ocidentalizadas.
Em termos de tecnologia, ocorreu a industrialização do arquipélago; isso, aliás, foi uma das razões pela qual o Japão, atrás de matéria-prima e mercado, meteu-se em conflitos com a China e com a Rússia nesse período. O telégrafo, as estradas de ferro, o trem e o lampião a querosene (protagonista de muitos incêndios...) foram introduzidos na vida do povo japonês. Casas e roupas em estilo europeu foram produzidas em solo nacional, a fim de atrair atenção e respeito dos estrangeiros e familiarizar a própria população com aquele contato.
A Medicina, nas áreas de nutrição, bacteriologia e medicina preventiva, avançou consideravelmente com as pesquisas realizadas por cientistas da Terra do Sol Nascente. A Sismologia foi uma das áreas mais desenvolvidas, afinal, todo mundo sabe que em matéria de vulcão, terremoto e coisas do gênero, o Japão é PhD...;)

Versão Japonesa!
"Pessoas Surpreendidas pela Chuva sobre a Ponte", de Hiroshige.
A Arte... sim, a arte! Na abertura dos portos, a difusão da cultura ocidental dentro do país foi grande... Mas e para fora do arquipélago? A Europa descobriu o Japão artisticamente; tanto que criou-se um movimento na França e territórios europeus: o Japonismo. O Japonismo foi favorecido pelas Exposições Internacionais de 1862 (em Londres), de 1867 e 1878 (em Paris), feiras que traziam a cultura desse país pela arte. O ukiyo-e e outras técnicas de pintura e gravura japonesas tornaram-se populares através de estampas de leques, cerâmicas e tecidos, além dos próprios desenhos em si. Aliás, o movimento Art Nouveau (comentado pelo Couto), teve bases também na arte gráfica japonesa.
Muitos artistas europeus acabaram influenciados pela arte nipônica, inclusive aquele que a sora parece adorar: Vincent Van Gogh...:D

Versão Européia!
"Ponts Sous La Pluie", de Van Gogh. Com kanjis inventados pelo artista...xD
Bem, falta só mais UMA postagem sobre o assunto, que no caso tem a enorme quantidade de fontes de pesquisa utilizadas, além de um complemento sobre como a Era Meiji (e a história do Japão em si) já foi abordada pelo Cinema e pela Literatura...;)
Jaa!o/

segunda-feira, 23 de abril de 2007

O Japão e o Século XIX (II)

Paramos na unificação. Bem, na verdade nas minhas considerações babacas que incluíram até o Slam Dunk, que não tem nada a ver com história ou século XIX...xD
Devemos continuar no que veio depois. Puxa, lendo agora, essa frase ficou tão óbvia...^^'
Err... Ok, vamos lá!o/



Período Edo.
Ano... Sumimasen...

A Era Edo ou Tokugawa (1603 - 1868)

Em 1603, Tokugawa Ieyasu estabelece o início do xogunato de seu clã, que irá durar mais de 2 séculos. Uma dita "era de paz", pois não há aqueles conflitos civis generalizados entre os clãs que assolavam o Japão anteriormente. Mas qual era o porquê dessa ausência de conflitos? Repressão imediata e violenta, claro.:D
Tokugawa Ieyasu era agora o "Generalíssimo" (Shogun) da nação. O nome do período em que seu clã governou ficou conhecido por "Era Edo" porque o governo foi estabelecido... em Edo - atual Tokyo!:D
O regime adotado era o feudalismo, em que haviam sido estabelecidas rígidas regras entre os daimyôs (suseranos), samurais (vassalos) e os lavradores (servos).
Nessa época, todos os estudos e publicações que pudessem contestar o poder do Shogun foram proibidos. Depois de alguns anos, até mesmo os portos japoneses foram fechados ao mundo para que fosse evitada a incursão de pensamentos subversivos vindos do exterior. Os únicos estrangeiros permitidos de comercializar com a Terra do Sol Nascente eram os holandeses, que ainda assim ficavam restritos ao porto de uma pequena ilha, Dejima. O Cristianismo, que andava colocando as asinhas de fora no país, foi proibido; muitos de seus seguidores foram mortos ou convertidos ao Budismo e Shintoismo a força...

A fim de evitar rebeliões e conspirações, os senhores feudais (daimyôs) foram escolhidos a dedo pelo primeiro Shogun dessa época. Não apenas isso, a enorme precaução de Ieyasu consistiu em fazer cada um dos governantes locais se apresentarem no castelo de Edo para executarem serviços governamentais e fazerem investimentos em obras públicas, no período de um ano (ano sim, ano não... o.O); como os investimentos em si, a viagem, a estadia e as roupas cerimoniais para tal ocasião custavam caro, essa ação tinha por objetivo fazer os daimyôs se ocuparem financeiramente, de modo a nunca conseguirem aplicar dinheiro em exércitos paralelos ao do "Generalíssimo". Mas como precaução e caldo de galinha nunca fazem mal a ninguém (só à galinha - e a pessoas alérgicas a ela), o Shogun ordenou que alguns membros das famílias dos governantes regionais vivessem ali na capital; com isso, ele tinha reféns para usar, caso algum dos daimyôs se revoltassem. Espertinho esse Ieyasu, nee?o.O

Os samurais eram uma classe abaixo dos daimyôs, sendo vassalos que usavam sua espada a favor de seus suseranos. Se você já viu filmes, documentários, livros ou qualquer coisa assim, pode lembrar que a própria palavra "samurai" significa justamente "aquele que serve". Tais guerreiros sobreviviam de suas relações com os senhores feudais; geralmente eram pagos com arroz e privilégios por seus serviços, mas não podiam possuir terras. Esse tipo de situação obrigava os samurais a escolher entre abandonar a espada e tornarem-se simples aldeões, ou a servir algum senhor de terras.
Em geral, esses guerreiros eram relativamente cultos (sabiam algo de caligrafia e artes, e muito de manejar a espada) e viviam sob a filosofia do Bushido, literalmente, "o caminho daquele que serve", uma vez que "bushi" é um quase-sinônimo de "samurai". Esse código de ética não-escrito, tratava a morte como uma maneira de perpetuar a vida... Mas como dizia o Cap. Queiroz, nosso professor de Filosofia: "Tá, mas que bicho é esse"?:)
Pela máxima do bushido, "a vida é limitada, mas o nome e a honra do samurai são perpétuos". Portanto, morrer era uma honra, especialmente se fosse em conflito. Esse era o tipo de pensamento que fazia esses guerreiros tão eficientes em campo de batalha; afinal, se você tão tem nada a perder morrendo, por que se poupar nas lutas?:)
Vocês também já devem ter ouvido falar no harakiri (hara = barriga, kiri = cortar), no qual o samurai derrotado utilizava um tantô (adaga) para cortar a barriga, ajoelhado, enquanto, algumas vezes, o inimigo cortava a sua cabeça com uma katana (espada longa). Na realidade, harakiri é uma palavra que demonstra mais a visão ocidental do que a oriental sobre tal ato. A palavra para todo o ritual que se passava é seppuku, e ele acontecia quando o guerreiro era derrotado em campo de batalha (aí, em geral, era seguido da decapitação), ou quando falhava em servir ao seu suserano (nesse caso, a morte era lenta e dolorosa, pois o bushi devia demonstrar seu tremendo autocontrole em relação à dor, não só enfiando a espada na barriga, como puxando-a para cima o máximo que conseguisse).
Quando um homem se tornava samurai, toda a sua família deveria servir ao daimyô e se submeter às regras deles. Se o guerreiro falhasse com o seu senhor, a família inteira deveria acompanhá-lo no ritual do seppuku, para que a honra fosse lavada... Samurais desgarrados, que abandonavam seus daimyôs, eram considerados párias, sendo aí chamados rounins.
As pessoas dessa classe não eram habitantes do campo, mas citadinos, embora vivessem às custas de uma classe social bastante reprimida por eles próprios: os lavradores.

Os camponeses, lavradores e aldeões eram a base da hierarquia social. Como nem os samurais (que nada produziam), nem os daimyôs, funcionários do governo, pagavam impostos, já se pode supor quem arcava com os gastos de tudo... Sim, como é de praxe, muda-se o país, a cultura, a língua e o lado do mundo... mas a classe baixa é sempre a mesma explorada e prejudicada...¬___¬
Bem, se você ainda está lendo e absorvendo esse blog, deve lembrar que lá nas batalhas de unificação, um cara chamado Toyotomi Hideyoshi desarmou a população. Isso já foi uma mão na roda para o governo Tokugawa, que estabeleceu regras ainda mais rígidas sobre a população. Os lavradores eram obrigados a pagar os impostos com 50% da produção (sendo assim obrigados a diminuir o próprio consumo de arroz)! Além disso, se o governo requisitasse algum serviço gratuito dos lavradores, eles deveriam fazê-lo...:P
Não à toa, o final da Era Tokugawa ocorreu por, entre outras coisas, revoltas camponesas...
Por fim, os últimos integrantes da hierarquia japonesa eram os comerciantes. Na teoria. Na prática, financeiramente, os mercadores estavam em ascensão constante como classe - até mesmo mais do que os próprios samurais, colocados no topo mas, muitas vezes, miseráveis.

Castelo de Osaka, na primavera.
Castelo de Osaka, onde os inimigos de Tokugawa foram eliminados no início do regime.
O Fim da Era

Como já deu pra perceber, a "paz" existente nesse período era algo forçado. Existiram, sim (e em grande quantidade), rebeliões provocadas pelo povo.
Primeiro por decorrência da situação entre as classes. Os samurais, por nada produzirem, dependiam exclusivamente dos daimyôs para tudo. Não cresciam financeiramente porque eram vassalos, mas dependiam eternamente do trabalho executado pelos lavradores de terra, possuindo domínio (ou seja, podendo cobrar impostos) sobre eles. A classe dos mercadores, que deveriam permanecer lááá embaixo na pirâmide hierárquica, estava se desenvolvendo e superando os samurais em termos de recursos financeiros, pois o governo se utilizava de uma política favorável à alta produtividade e ao uso da moeda corrente na época - algo que, diga-se de passagem, contrariava todo o sistema feudal.
Os samurais então, para conseguirem manter o seus luxos e se igualarem à burguesia, cobravam tributos e mais tributos dos camponeses, cada vez mais miseráveis. Logo, ocorreram grandes ondas de fome no país, que resultaram em saques e situações de caos. Foram efetuadas várias reformas durante essa Era, mas nenhuma delas resolveu efetivamente a questão social. A decadência dos samurais foi inevitável; a situação de relativa paz (ou seja, não-existência de guerras civis) havia tornado muitos desempregados e desocupados. Alguns para sobreviverem se dedicaram ao artesanato, outros viraram meros guarda-costas de daimyôs, houve os que se tornassem bandidos, e ainda alguns venderam a própria espada (considerada a alma do bushi) para conseguirem dinheiro.
Fora a situação social, que já havia chegado num limite, o outro problema do governo dos Tokugawa veio do exterior: Estados Unidos, França e Inglaterra estavam desenvolvendo a indústria. Os três concorriam entre si. Estavam sedentos por arranjar mercado consumidor - e por que não tentar naquele arquipélago que se encontrava, até então, isolado do mundo? Pois é. O Japão estava, literalmente, entre a cruz e a espada...o.o
Os movimentos pela restauração imperialista, nacionalistas e xenófobos estavam divididos entre se ocupar da reforma que modificaria o sistema de governo japonês e tocar os estrangeiros (já beneficiados com a abertura meio forçada dos portos, em 1851, por Matthew Perry, comodoro norte-americano) pra longe dos portos japoneses... O que fazer primeiro? A idéia original era primeiro dar um trato nos gaijins, depois se ocupar da reforma. Contudo, ao se darem conta do poderio estrangeiro, os japoneses optaram por fazer a restauração imperial primeiro.
Para isso, ocorreu a união entre senhores feudais de diferentes partes do país, que, marchando contra o shogunato (bakufu) de Tokugawa, angariaram tantos aliados para suas tropas revolucionárias, que Tokugawa Yoshinobu, o último Shogun, e seu exército, teve que reconhecer, em 1867, a derrota e entregar o poder ao Imperador Meiji.

Daishô, as armas dos samurais.
Tantô (adaga), wakizashi (espada curta) e katana (espada longa).
Ufa!
Agora, minhas considerações!\o/
1) Sobre o fechamento dos portos, no início do período: pense nos nossos antigos e queridos colonizadores, os portugueses. Bem, ao chegar no Japão, eles muito provavelmente enxergaram os japoneses quase como os nossos índios daqui, uns bobos úteis: "vamos difundir a fé cristã e colonizá-los, oba"! Entretanto o povo nipônico, diferentemente do indígena, não era ingênuo, primitivo e totalmente desunido. Ainda assim, os europeus encontraram a brecha que precisavam para converter mais de um pessoa à sua religião; muito espertinhos, eles perceberam que se incutissem as idéias católicas na cabeça do daimyô e o convertessem, o povo, os samurais, os lavradores, seguiriam-no. E foi isso que aconteceu. Sim, a religião cristã vingou entre muitos japoneses e se tornou um problema para o governo, que descobriu o que os portugueses e espanhóis andavam fazendo com as Américas, e, conseqüentemente, qual era o plano para o Japão - a Igreja já até arrecadava impostos nos lugares dos convertidos... P*to da cara (com o perdão da expressão), o Shogun tocou pra fora ou mandou matar muitos dos estrangeiros mal-intencionados e dos fiéis, aproveitando pra fechar os portos e deixar claro que o país não era a casa da mãe Joana. Mas os camponeses, que também já tinham assimilado a história de Jesus, da Virgem Maria e de todo o lero-lero católico (além de estarem saturados dos impostos a pagar), revoltaram-se. A perseguição aos cristãos só serviu para tornar o povo ainda mais fanático, o que resultou na Revolta de Shimabara (lugar que concentrava os católicos), em 1637. Como após a revolta ainda persistiam alguns cristãos, o governo continuou com sua perseguição, chegando a reconverter muitos, sob tortura, ao shintoismo ou budismo. Os católicos remanescentes praticavam a adoração escondida.:O
2) Apesar do início do governo ter se estabelecido em Edo, em meio a esses séculos, a capital passou para Kyoto; não me perguntem a data, mas tive que deduzir isso porque, apesar de não encontrar as datas exatas, notei que a capital passa para Edo (Tokyo), mais uma vez, quando acaba o shogunato Tokugawa... Vai entender...u.ù
3) A hierarquia (sempre ela...) em resumo (e teoria), do maior ao menor: Shogun, daimyôs, samurais, camponeses/aldeões e mercadores. A família Imperial sempre existiu, mas, nesse período, não era nada além de uma figura decorativa. O que foi crescendo nos japoneses, o sentimento nacionalista, é o que trouxe à tona o desejo de serem governados por um Imperador, alguém de linhagem divina, e não um ditador militar.
4) Os samurais, figuras conhecidas pelo mundo inteiro como símbolo da disciplina e honra japonesas, como você pode constatar, nem todos foram essa maravilha. Sim, pelos que seguiam o código de honra do Bushido, havia o respeito da população; mas também existiam aqueles corruptos que praticavam o abuso de poder e ganhavam o ódio dos lavradores. Ironicamente, o samurai mais admirado, até hoje, pelo povo nipônico, não serviu a um daimyô; era um pária, um desgarrado, um rounin. Falei dele no post passado: Miyamoto Musashi.
4) Como admiradora amadora (?) de arte, não poderia deixar de falar num estilo de pintura e gravura que se desenvolveu nesse período: o Ukiyo-e. Ukiyo, o mundo flutuante é uma idéia do zen-budismo; o conceito de que você e seu mundo são insignificantes dentro do Universo inteiro, de que cada pequeno momento é efêmero e a cada instante, tudo muda. Enfim, o "mundo flutuante" é nada mais, nada menos que... o mundo de agora! Em Ukiyo-e, o ideograma "e" significa "retrato", "desenho", "ilustração". Então "retratos do mundo flutuante" eram gravuras que mostravam determinado momento ou situação cotidiana das cidades; não mostravam fatos históricos, mas atividades de entretenimento, da multidão e de paisagens naturais, coisas que, um segundo após terem começado a ser retratadas, já haviam mudado. Uma ótima representação da idéia desse movimento foi a obra de Hokusai (um dos principais artistas da época) entitulada de "36 Vistas do Monte Fuji" (Fugaku Sanjuu-Rokkei), em que o autor retratou a paisagem de diferentes ângulos, em diferentes épocas do ano.

Exemplo de Ukiyo-e.
"Por Trás da Grande Onda, em Kanagawa", de Hokusai.
Crianças, no próximo post vou chegar finalmente no ponto de interesse: a Era Meiji, no século XIX, nessa mesma hora, nesse mesmo canal.
Jaa!o/

domingo, 22 de abril de 2007

O Japão e o Século XIX (I)

A avaliação do blog já foi feita e não tive tempo para falar do meu assunto de maior interesse: o Japão no século XIX.:P
Mas gosto TANTO desse assunto que resolvi falar dele mesmo após a conclusão do bimestre. Meu único empecilho foi a época de AEs (Avaliações de Estudo). Como ela, graças a Deus, já foi encerrada, pude me dedicar aos textos que comecei um pouco antes...
Nihon no rekishi wo benkyoshimasshou ka?;D
[Vamos estudar a História do Japão?;D]
História japonesa.^^
Hai!\o/
Bem, iniciando esse post, terei que esclarecer que o Japão teve um século XIX (no sentido de avanços e mudanças) tardio em relação à Europa. E como a História japonesa não faz parte do nosso currículo nas escolas, vou voltar um pouco no tempo até chegar no ponto de interesse, que é a Era Meiji.

Pra início de conversa, a história desse país é dividida em vários períodos (e se você for procurar em fontes diferentes, como eu, vai perceber que sempre há controvérsias nas divisões cronológicas; portanto confiem, por hora, nessa daqui...ú.ù):

*Era Jomon (antes de 300a.C.), na qual os homens viviam de caça e pesca, sendo nômades, mas aos poucos começaram a se fixar em aldeias;
*Era Yayoi (300a.C - 300d.C.), quando começa o cultivo de arroz e há introdução de instrumentos de metal no arquipélago, além de começarem a surgir as diferenças sociais;
*Era Kofun (300 - 645), em que surge a aristocracia, o império baseado na mitologia e a primeira Constituição japonesa, assim como a introdução do budismo no país;
*Era Asuka (645 - 710), na qual é definida a organização política, o sistema tributário, etc., havendo também promulgações e vários códigos de leis.
*Era Nara (710-794), no qual houve transferência da capital imperial de Asuka para Nara, difusão do budismo pelo imperador e elaboração das mais antigas obras literárias do país, o Kojiki e o Nihongi;
*Era Heian (794-1185/1192), quando a capital foi transferida para Kyoto (Heiankyo, a "capital da paz"), os japoneses começam a ter uma cultura própria após anos assimilando a cultura chinesa, criam-se os kanas (alfabetos fonéticos) que possibilitam o florescimento da literatura e da arte entre os nobres;
*Era Kamakura (1185/1192 - 1333), em que surge a classe dos samurais (odiáveis coletores de impostos, nessa época), o governo militar dos shoguns ou "generais" (o xogunato), o início do feudalismo, e as tentativas frustradas de invasão dos mongóis, barradas duas vezes pelos kamikazes ("ventos divinos", nesse contexto FURACÕES de verdade, e não guerreiros suicidas...o.O);
*Era Muromachi ou Ashikaga (1333 - 1582), na qual aconteceu a difusão do , teatro de máscaras, e da cerimônia do chá, a reabertura do intercâmbio comercial com chineses (forçada pelo surgimento dos piratas nipônicos), o primeiro contato com os portugueses (conseqüentemente com as armas de fogo e com o cristianismo), inúmeras guerras civis - chegando a existir dois imperadores governando no mesmo período -, e o poder exacerbado dos daimyôs (senhores de terra), devido à incompetência administrativa do governo.

Parando nesse período de guerra civil e caos, vou me aprofundar na unificação do país, para abordar, na próxima postagem, a Era Tokugawa (que de tão longa vai ter que ganhar um post especial...:P).

Byodoin Phoenix Hall.
Byodoin Phoenix Hall, construído na Era Heian.

A Unificação e a Era dos Ditadores (1582 - 1600)

A unificação do Japão, após o período de guerra civil se deu por conta de três grandes generais: Oda Nobunaga, Toyotomi Hideyoshi e Tokugawa Ieyasu.
Oda Nobunaga, um daimyô do norte, excelente estrategista, em 1568, vence todos os seus adversários e marcha em direção à capital fazendo-se nomear shogun. Suicida-se em 1582 após ter sido atacado por um de seus próprios generais, e acaba não finalizando a centralização do poder nipônico.
Quem dá continuidade à unificação é Toyotomi Hideyoshi, seu braço-direito, de origem humilde (filho de camponeses), porém um exímio estadista. Aliás, o que há de mais interessante na biografia de Hideyoshi é justamente o fato de que ele começou sua carreira ao lado de Nobunaga como um simples criado; devido à sua inteligência, gradualmente atingiu o posto mais alto no comando das tropas de Oda. Toyotomi é responsável pelo desarmamento da população em geral (exceto dos samurais) e pela invasão da Coréia.
Com a morte de Hideyoshi, um dos vassalos do falecido ditador se destaca politicamente: Tokugawa Ieyasu. Esse, entretanto, possui um rival de peso - o filho do morto, Toyotomi Hideyori. De peso porque muitos senhores feudais também não gostam nada de todo o poder que Tokugawa tem... E o que eles fazem? Apoiam o filho do ditador-cadáver. A tensão cresce a ponto de se tornar um conflito militar.
O embate decisivo é a sangrenta e famosa (pra quem assiste animes ou lê mangás, em geral...^^') batalha de Sekigahara, em 1600, da qual Ieyasu Tokugawa sai vitorioso com relativa facilidade.


Kamikazes.
À esquerda, o que fizeram os verdadeiros kamikazes. À direita, pilotos da Segunda Guerra.

Fazendo uma pausa até o próximo post, algumas considerações minhas sobre o texto, caso tenha passado despercebido...^^
1) Kamikazes, os "ventos divinos" (kami = deus; kaze = vento) da Era Kamakura foram... ventos! Sim, por um estranho milagre, a dominação japonesa pelos mongóis não ocorreu, justamente por culpa do fator natural (e, como foi considerado, divino). Já na Segunda Guerra Mundial, quando o Japão enfrentava os Aliados com recursos muito menos desenvolvidos, a fim de levantar a moral dos combatentes, essa situação histórica foi trazida à tona pelo governo. Tanto é que hoje a maior parte do mundo, ao escutar o nome "kamikaze", lembra-se dos pilotos nipônicos que jogavam em um ato suicida o próprio avião contra os navios aliados...
2) Caso você, leitor suuuuper-observador (;D), tenha pensado: "Meu Deus, o filho de Toyotomi Hideyoshi herdou o nome do pai, mas não o sobrenome; que bizarro!", eu digo não. Não, ele não herdou o nome e perdeu o sobrenome. No Japão, o nome da família vem primeiro, seguido do nome da pessoa. O que, aliás, me remete à Biologia, na qual o nome específico é composto primeiro pelo nome do gênero, depois pelo epíteto específico... Ai,ai,ai... Essas AEs...T_T
3) Se você se interessa por cultura japonesa em geral, por samurais, e etc., provavelmente ouviu falar num famosíssimo samurai, sobrevivente da Batalha de Sekigahara, sobre o qual já foram feitos vários livros, documentários, jogos de videogame, mangás e quinquilharias: Miyamoto Musashi. Considerado um herói nacional, Musashi é reconhecido por sua habilidade e estratégia descomunal com a espada (criou um estilo próprio chamado Niten-Ichi, uma espada em cada mão) e por seus escritos sobre o Bushido (Gorin-No-Sho, "O Livro dos Cinco Anéis"); por seu estilo de vida que unia o manejo da espada e as artes. Sobre ele, há um mangá publicado no Brasil pela editora Conrad: Vagabond, do autor Inoue Takehiko - para o pessoal do basquete, esse mesmo autor escreveu um mangá sobre o assunto, mais voltado para a comédia, o "Slam Dunk". Opinião minha: não li, mas só escuto elogios a respeito de Vagabond, que tem o traço mais realista do que aqueles que vocês conhecem através da mídia (ex.: Pokémon, Digimon, Speed Racer, Sailor Moon, Cavaleiros do Zodíaco, etc.). :)

Mangás de Inoue Takehiko.=)

Capas de "Vagabond" e "Slam Dunk", ambos de Takehiko Inoue.
Até a próxima, amiguinhos!xD
Jaa!o/

domingo, 1 de abril de 2007

Diversões Inglesas, George Du Maurier e a Punch!

Nessa postagem vamos ver alguns assuntos que despertaram a minha curiosidade em meio à pesquisa. Primeiro, as diversões dos ingleses; o que faziam eles no tempo livre?
Depois, temos três assuntos interligados: George Du Maurier, a revista Punch e as sátiras sociais promovidas por esses nomes (sendo que Maurier trabalhava na revista). Vamos lá!\o/

Diversão


Começarei pela música, afinal, era ela que mais aproximava e divertia os membros da sociedade inglesa. O interesse em música era tanto na Inglaterra que diversas cidades e vilarejos ingleses possuíam bandinha, coral e uma sociedade musical em geral. Como já foi citado no primeiro post, um dos requisitos para as senhoritas "casáveis" (como sinal de refinamento) era saber tocar um instrumento e até ter alguma habilidade com a voz... Isso porque, nas festas e jantares sociais, elas precisavam, de alguma forma, entreter os convidados. E por que não cantando?:D
Cantar era tão popular que existia pessoas que ganhavam a vida publicando folhetos com as letras de baladas românticas. Baladas são histórias em narrativa ou poema, com rimas e refrões - se com temas religiosos ou políticos, podem ser consideradas hinos. Basicamente eram historinhas de cunho patriótico ("Rule Britannia"), cômico ou poético ("Come Into the Garden Maud", por exemplo) musicados.
A popularidade dos "Music Halls" ("Salões de Música", traduzindo) se deve, além dessa paixão, ao fato de que a "sociedade de bem" vitoriana considerava muitas das idéias propostas no teatro pouco decentes... Sendo assim, a diversão mais prestigiada pelos homens ingleses era a ida a esses salões - atividade que durou até o fim da Primeira Guerra, quando foi substituída pelo cinema.
A dança, relacionada a, e decorrente da música, sempre fora praticada com sentido folclórico, de diversão e integração social entre indivíduos. A valsa (trazida de Viena por Johann Strauss) era a dança preferida pela classe alta, pela corte e, inclusive, pela Rainha Vitória, por ser elegante. Entretanto, danças folclóricas e tradicionais como as jig e as hornpipes eram muito apreciadas por todos. Um tipo de dança que estourou em 1840, tanto entre as classes ricas como as pobres foi a polca, dançada tanto nos jantares e reuniões chiques da alta sociedade, como nas tavernas e lugares freqüentados pela classe trabalhadora.

Senhoritas e seus dotes musicais.
"Airs and Graces", por Vernon Ward.

Homens "de bem" (leia aqui: "com dinheiro") podiam se divertir nos "jardins de prazeres", os Gardens, como Vauxhall e Cremorne - mulheres bem-criadas, contudo, jamais seriam vistas em um desses ambientes. O que acontecia nesses jardins? De tudo. Basicamente, comia-se, bebia-se, dançava-se, ouvia-se música, observava-se fogos de artifícios e pantominas. Além, é claro, da diversão com "mulheres decaídas".
Outra diversão masculina (da classe alta) era a caça à raposa. Pausa para a expressão da minha indignação.

Grrrrrr!
"Indignação", por eu mesma!

Ok, voltando ao assunto, Oscar Wilde definia esse "esporte" de uma maneira bem interessante: "a busca do incomível pelo indizível" ("the pursuit of the uneatable by the unspeakable")... O objeto de caça era o canídeo do gênero Vulpes porque o desmatamento havia tornado escasso o número de cervos, obrigando os perseguidores a procurar um outra alternativa. Uma vez que as raposas possuem hábitos noturnos, os caçadores, para início de conversa, tampavam todas as tocas a fim de manter os animais acima do chão. Depois, o que realmente acontecia era a perseguição de raposas por cães. Os ilustres cavalheiros/cavaleiros só seguiam seus animais de perto, e ainda montados em cavalos; dificilmente eles mesmos se utilizavam de uma arma.¬_¬
Falando em cavalos, as corridas de cavalos também tinham algum espaço entre as atividades dos ingleses do século XIX.

Os jardins de prazeres...
"The Dancing Platform at Cremorne Gardens", por Phoebus Levin.

Por último temos uma diversão bem "do povo": as feiras. Elas aconteciam em qualquer canto da Grã-Bretanha que tivesse população interessada. Vendia-se de tudo nelas, de comida a móveis e peças de vestuário e decoração. Mas a popularidade das feiras não se dava especialmente pelo fator "consumo". O que atraía pessoas a elas eram as atrações; o povo adorava (venhamos e convenhamos: em certos lugares, até hoje o povo adora isto...:P) as chamadas "aberrações", que nada mais eram que pessoas com malformações congênitas ou deformações adquiridas depois do nascimento (algumas vezes, justamente para poderem servir de "monstros" para os circos e feiras). Esqueletos ambulantes, obesos mórbidos, entre tantos outros. Aliás, existe um filme de 1980 chamado "O Homem-Elefante" ("The Elephant Man"), baseado na história verídica de Joseph Merrick (1862-1890), um cidadão inglês portador de uma doença rara (em 1976 acreditava-se ser neurofibromatose, mas estudos mais recentes dizem ser a doença a Síndrome de Proteu...) que havia provocado deformações em 90% de seu corpo, bem visíveis na cabeça, e por isso era tratado como aberração de circo. Sim, era isso que o "povão" apreciava nas feiras...¬_¬
E é por aqui que eu encerro as diversões vitorianas, para ir aos próximos assuntos.:]


George Du Maurier e a Punch


A revista inglesa Punch (Punch = Soco) é um ótimo material de retratação da sociedade vitoriana; mais do que o humor, a Punch investia em críticas políticas e sociais para existir. Foi idealizada em 1841 por Mark Lemon e Henry Mayhew, reunidos no Castelo de Edimburgo, com convidados da estirpe do jornalista Douglas Jerrold (com reputação de campanhas contra a pobreza) e John Leech, um estudante de medicina cujos desenhos haviam impressionado Mayhew. A revista foi fundada em 1841 pelos já citados Mayhew e Lemon, mais Joseph Stirling Coyne, que ajudou a financiá-la. Ainda nos anos 1840, vários membros da equipe já eram associados (amigos e conhecidos) do famoso autor Charles Dickens. A equipe colocava em suas revistas todo o cinismo com o governo, críticas à alta sociedade e ao modo como os trabalhadores eram tratados por seus empregadores. George Du Maurier começou a contribuir para a revista em 1860, integrando oficialmente a equipe em 1865.

Os ingleses se divertindo tristemente...:D
"The English Take Their Pleasure Sadly", por George du Maurier.

Mas... quem foi George Du Maurier?:D
Em 1834, nasce George Louis Palmella Busson Du Maurier (pequeno nome...), em Paris, França. Sim, na França - e foi isso que me chamou atenção... Bem, na verdade o escritor e ilustrador era filho de uma inglesa exilada na França pela sociedade, e neto de um francês trambiqueiro (por sua vez, fugido da França...), que, de tão trambiqueiro, acrescentou o "Du Maurier" ao nome para reforçar a idéia de seu "sangue aristocrático"... Aliás, George Du Maurier em pessoa cresceu em meio ao mito de que a sua herança genealógica remontava ao século XII. Tendo aprendido francês e inglês ao mesmo tempo, chegou a estudar Química na Inglaterra, embora tenha desistido rápido dessa carreira arranjada por seu pai, retornando à França e depois indo à Bélgica para estudar arte. Voltou a Londres em 1860 procurando emprego como ilustrador em revistas. Casou-se com Emma Wightwick em 1863, quando já estava crescendo profissionalmente como ilustrador e tornando-se reconhecido.
Seu trabalho na Punch rendeu uma coleção de mais de 130 desenhos sobre a sociedade inglesa. Bom, na minha opinião (que fique bem claro, porque não convivi com o cara pra dizer se é isso mesmo), acredito que o fato de ele ter sido francês pode ter sido um dos fatores que contribuíram para que seus desenhos fossem feitos criticando acidamente a sociedade inglesa, sem muito pesar. Afinal, tem a famosa e antiga rivalidade entre franceses e ingleses...

Feline Amenities, por George Du Maurier.
[Ilustração "Amenidades Felinas"]:
Srta. Tregushing - Oh, sim! Tem mares e céus tão adoráveis na Cornualha, além de rochas e cavernas, e as mais magníficas ondas que você possa imaginar, e...
Sra. Frou-Frou - Mas nenhum costureiro, eu suponho!


George Du Maurier também foi o autor de um best-seller da época: "Trilby". A protagonista da história, Trilby O'Ferrall, é uma linda garota meio-irlandesa trabalhando na França como modelo para artistas e lavadeira. Ela não tem absolutamente nenhum gosto musical ou habilidade para isso. Mesmo assim, o outro personagem memorável da história, Svengali, um vagabundo judeu, com ótimas habilidades musicais e um hipnotista irresistível, decide "enfeitiçá-la", transformando-a em uma diva aclamada, mas que só consegue cantar em transe, sob efeito da hipnose de Svengali. Quando Svengali sofre um ataque cardíaco em uma turnê de Trilby em Londres, ele fica incapaz de hipnotizá-la, e ela de cantar. Acredita-se que essa história tenha inspirado uma outra, tão famosa quanto, de Gaston Leroux: "O Fantasma da Ópera" (1909/1910).
Uma outra curiosidade sobre o autor e ilustrador: ele era pai de Sylvia Llewelyn Davies, mãe dos meninos Llewelyn Davies, que inspiraram o escritor J.M. Barrie a compor a famosa história de Peter Pan e da "Terra do Nunca" - relação que, aliás, é mostrada no filme "Em Busca da Terra do Nunca" ("Finding Neverland"), com algumas liberdades artísticas.

The Dancing Man of the Period, por George Du Maurier.
[Ilustração "Os Dançarinos da Época"]:
"Tens dançado ultimamente?"
"Dançado? Eu não! Tente me ver dançando em uma casa onde não há sala de fumar! Estou fora, certamente!"


Referências:
VictorianWeb.org - informações sobre a Punch e sobre George Du Maurier, além das imagens do ilustrador.
Fashion-Era.com - sobre diversões vitorianas e imagens que ilustram o tópico.
George Du Maurier - página da Wikipédia.
Trilby (novela) - página da Wikipédia sobre o livro.
Emma - A Victorian Romance - notas históricas sobre a caça à raposa.

Bem, por essa postagem é !\o/
Até a próxima, amiguinhos!xD

Jaa!o/

terça-feira, 27 de março de 2007

Comportamento Social na Inglaterra, Séc. XIX (2)

Na publicação passada, abordei a frivolidade com que viviam os aristocratas da Era Vitoriana. Eles possuíam uma vida que aparentava ser boa, mas, indo a fundo, podemos perceber como as relações eram vazias e sem sentido e como era tedioso o cotidiano (especialmente das madames) da classe alta nesse século.
Hora de abordar aquele grupo de pessoas que, nem aparentava, nem tinha a vida boa: a classe baixa...\o/

Pobreza e riqueza misturados nessa pintura de William Frith.
"Poverty and Wealth", por William Frith.

Segundo Tópico: A Classe Baixa

A classe baixa era composta por pessoas que se tornaram desempregadas (na área rural) de uma hora para outra e tiveram que migrar para as cidades, além dos próprios habitantes dos centros urbanos. A intensa atividade industrial da Era Vitoriana foi um dos motivos que resultou nessa urbanização, nesse movimento migratório.
Os menos afortunados viviam em cortiços ou em casas abandonadas pela classe alta decadente; não havia água nem boas condições sanitárias (contribuindo para a disseminação de doenças, inclusive), tal como a falta de segurança e a não-existência de escolas contribuía para a má qualidade de vida dessas pessoas.
Nas indústrias, não é novidade para ninguém: as jornadas de trabalho eram realizadas das 5:30 da manhã, podendo ultrapassar as 10:00 da noite. Homens, mulheres e crianças eram aceitos nesses empregos, ainda que mulheres e crianças obtivessem um salário menor, com o mesmo tempo feito por homens. Mesmo para o sexo masculino, o trabalho, além de pesado e estressante, rendia ordenados baixíssimos para os trabalhadores. Nessa época, por conseqüência desse fator, a taxa de alcóolatras e viciados (especialmente em ópio) era grande.

As dificuldades da classe baixa.
"From Hand to Mouth — He Was One of the Few Who Would Not Beg", por Thomas Faed.

Obviamente, além do trabalho nas fábricas (e também nas minas), havia as profissões exercidas na rua (vendedores, hospedeiros, por exemplo), aquelas que exigiam uma determinada habilidade (carpinteiros, ferreiros,...), ou o trabalho prestado à classe alta (mordomos, faxineiras, motoristas de carruagens...).
As crianças também trabalhavam fora de fábricas; quem nunca topou, por exemplo, com histórias ambientadas no século XIX que continham personagens como os pequenos "matchsellers" (vendedores de fósforos), "flower sellers" (vendedoras de flores), entre outros? Essa, infelizmente, é uma realidade presente nos dias de hoje em países como o nosso, em que o trabalho infantil continua a ser utilizado, e nós continuamos a ver crianças vendendo balas e frutas nos sinais, para não dizer coisas piores, como drogas... No século XIX, existe ainda uma estimativa de que a maioria das prostitutas estava entre 15 e 22 anos de idade, ou seja, garotas extremamente jovens - um problema que persiste no mundo atual, a exploração sexual infantil...

O êxodo rural.
"Hard Times", por Sir Hubert von Herkomer.

Lembrando que as mulheres ricas não trabalhavam, as de classe inferior, em geral, precisavam de uma ocupação para sustentar a família e a si mesmas. As mulheres de classe média baixa podiam trabalhar em hospedarias e hotéis, ser vendedoras, governantas ou professoras, além de fazer parte de ordens religiosas. As de classe baixa podiam ser empregadas domésticas, costureiras, lavadeiras, trabalhar nas fábricas, minas e fazendas, entre diversas outras pequenas ocupações. Àquelas sem emprego, restava mendigar ou se prostituir. Essas duas últimas atividades eram algumas vezes punidas pela polícia (!), sendo consideradas algo que hoje corresponderia ao "atentado ao pudor". Para as prostitutas, até é compreensível qual o atentado ao pudor por elas "cometido"; mas há casos registrados de pedintes que, por ordem das madames da alta sociedade, eram presas por suas atividades!
Também já foi citada a opulência dos vestidos (com armações gigantescas de saia) e dos acessórios das senhoras da sociedade; é claro que esse estilo de vida não correspondia ao da mulher comum de pouco dinheiro. Nós nos acostumamos com a idéia dos vitorianos ricos e suas roupas; mas a realidade dos pobres era bem menos "romântica" e bem mais dura.

Sem casa e com fome, a situação dos desempregados ingleses...
"Houseless and Hungry", por Sir Luke Fildes.

A educação era algo muito restrito à população menos favorecida. Ela até existia para algumas crianças, mas, mesmo para essas, era algo básico, sem comparação com o ensino de Gramática Latina e Grega a que os meninos de Eton, por exemplo, tinham acesso. A educação formal para crianças pequenas era dada pela escola dominical (aquela da igreja), quando ela era dada. A maioria das crianças nem chegava a freqüentar esse tipo de local, principalmente por conta do trabalho que tinham que efetuar nas fábricas e minas. Na verdade, um sistema educacional básico só foi criado pelo governo inglês em 1870, mas ainda era dirigido pelas igrejas que antes faziam o trabalho voluntariamente.

Referências:
VictorianWeb.org - minha principal base de estudos e fonte de imagens.
Fashion-Era.com - introdução do modo de vida da classe baixa.
Church Schools in England - sobre as escolas conduzidas pela igreja.
Emma - A Victorian Romance - novamente as notas históricas do mangá me deram base para achar as "board schools" inglesas (que me levaram ao site anterior)...;D

Indicações [BLOGS]:
Akemi - blog da Akemi, textos sobre o trabalho infantil, top de linha! ;D
Anna Schneider - a história dos perfumes e cosméticos, inevitavelmente parte da moda...:]
Behrens - sobre a moda em geral.
Rafaela - também sobre a moda.
Cynthia - sobre a Medicina e suas descobertas (relacionadas à melhoria de vida da população).
Dóris - a respeito de crianças e adolescentes nessa época...
Juliana M. - excelente blog sobre as mulheres no século XIX.
Paula - sobre as doenças na Era Vitoriana, muito importante em se tratando de perigos pelos quais a população passava...;)

Por enquanto é isso. No próximo tópico, pretendo falar sobre as diversões dos ingleses do século XIX. Além disso, quero citar alguma coisa sobre um cara chamado George du Maurier e a revista Punch, duas coisas que apareceram durante as minhas pesquisas e que me interessaram muito... O que será...?^^'

Jaa!o/

sexta-feira, 23 de março de 2007

Comportamento Social na Inglaterra, Século XIX

Bem, vou começar falando dos costumes, do comportamento social da maior potência no século XIX, a Inglaterra. Maior potência no sentido financeiro; no sentido comportamental (é isso?), ser très chic era... bem, ser francês.:D

Nas terras britânicas, o século XIX é lembrado principalmente como Era Vitoriana, por conta da Rainha Vitória, coroada em 1837.
Foi um período de prosperidade da aristocracia e da burguesia inglesa, devido ao desenvolvimento de tecnologias, de novos métodos de trabalho e, claro, da mão-de-obra barata composta por adultos e crianças que viviam na miséria quase absoluta. O país começou a se urbanizar por conta, justamente, da indústria; eram necessários trabalhadores - pessoas que antes viviam no campo migraram -; por causa da migração e da circulação de produtos, foi preciso a implantação e melhoria do sistema ferroviário; devido à massa que havia se instalado nas cidades, era preciso a construção de novas moradias; e assim por diante.

O trem, símbolo do desenvolvimento inglês.
"The Railway Station 1862" por William Frith.
Primeiro Tópico: A Classe Alta

O desenvolvimento da potência inglesa gerou os chamados ricos emergentes, aqueles sem sangue nobre, mas com capital o suficiente para serem queridos pela classe alta...>:D
Bom, na realidade não era bem assim... Mesmo na alta sociedade, os novos ricos não eram necessariamente mais valorizados que a verdadeira nobreza, justamente por terem surgido "do nada". Eram homens que obtinham sucesso com suas fábricas, acumulando capital para adquirir propriedades e bens, além de comprar as suas "entradas" para o restrito círculo social abastado.
A aristocracia inglesa (dos nobres e emergentes) é curiosa o suficiente para se estudar seu comportamento. Como já é sabido, a Inglaterra vivia, na Era Vitoriana, um período de bastante repressão (sexual inclusive), em que a "moral", os "bons costumes" e a "religião" eram exaustivamente evocados.

Perseverança social.
"Social Perseverance" por George du Maurier.
"O lugar da mulher é a casa."
Naquele período, a idéia principal que se tinha sobre a função feminina era essa. O que era exigido a uma aristocrata dessa época? Ser capaz de fazer algumas tarefas domésticas (para as que tinham servos, sinal de status, fazer trabalhos da casa não era tão necessário), de cantar, tocar algum instrumento e falar um pouco de francês ou italiano (o latim e o grego eram consideradas línguas masculinas). As qualidades principais de uma moça seriam a inocência, a responsabilidade, a virtude e a fidelidade. As garotas eram criadas desde pequenas com a intenção de se tornarem "casáveis", ou seja, de serem capazes de manter a atmosfera familiar leve (não criarem perturbações para seus maridos), sendo quase que completamente ignorantes em assuntos políticos, econômicos e sociais, e, ao mesmo tempo, altamente dependentes de seus cônjuges, incapazes de fazer uma escolha que não fosse relativa à casa e à família.
As moças ricas passavam a maior parte de seu tempo lendo, bordando, visitando, recebendo visitantes, escrevendo cartas e indo a eventos sociais para acompanhar o marido ou simplesmente para fazer parte da sociedade - atividade que elas, aliás, começavam aos 16/18 anos após a festa de apresentação ao meio (o mesmo "debut" que ainda é feito hoje), significando que elas já estavam prontas para um possível casamento.
Aliás, uma curiosa atividade (citada ali acima) eram as chamadas visitas. Uma vez que as mulheres ricas não trabalhavam, restava a elas, entre às 3:00 e 6:00 da tarde as ditas "morning calls" ("visitas da manhã"), em que se ía a várias casas em um curto período de tempo levando os seus "cartões de visita" para anunciar a presença. Quando a anfitriã não desejava por algum motivo receber pessoas, ela simplesmente mandava seu empregado dizer que "não estava em casa", uma maneira educada (convenção) de dizer "Tenho mais o que fazer", ou "Estou sem saco para conversar" ou ainda "Você não é bem-vinda na minha casa"... :)

Mulheres vitorianas.
Para os homens, as esposas praticamente existiam para a função da reprodução, companhia de eventos sociais e administração do lar. O máximo de capacidade que elas deveriam ter era a de incutir a chamada moral na cabeça dos filhos, a de demonstrar autoridade perante os empregados e a de manter o nome da família sempre bem falado na alta sociedade.
De maneira extremamente hipócrita, eles exigiam que elas se mantivessem fiéis - ainda que, sabidamente, tivessem amantes para esperá-los nos "Clubes de Cavalheiros". :P
Sociedade de homens.
"Too Early" por James Tissot.
Uma das várias maneiras de se demonstrar status social era através da casa. As casas vitorianas da aristocracia eram normalmente grandes, mas, por fora, não era tão evidente a ostentação quanto por dentro. Os seus moradores costumavam ornamentar cada centímetro da parede com papéis estampados, quadros e tapeçarias. Fora a parede, os móveis costumavam ser pesados e cheios de... hmmm... "frescura" (não encontrei palavra melhor :D) - além de cobertos por estatuetas, bibelôs, porta-retratos, potes, tecidos e caixinhas. Toda essa parafernalha para demonstrar refinamento e bom-gosto criava ambientes geralmente escuros e opressivos. Mas demonstrava status...:P
Apesar da falta de cores, pode-se perceber que o cenário é cheio de detalhes.

Outro termômetro "statonômico" (tá, acabo de tentar criar um neologismo com a palavra status... x___X) era a quantidade de servos e empregados. Dentro de uma única casa rica podia existir vários deles, em grupos com funções específicas (limpar, cozinhar, dirigir as carruagens/carros, fazer a jardinagem, receber os visitantes, servir...). Para as garotas, era comum existir uma empregada especial, encarregada de ajudá-la a se vestir e despir (naquela época algo complicado pela moda), entre outras coisas. Além dessa, as moças podiam ter uma serva que exclusivamente as acompanhavam nas festas - essas geralmente era escolhidas por serem mais jovens e terem uma melhor aparência que as empregadas comuns.
A educação era normalmente ministrada por um tutor/professor pago pela família aos garotos - as garotas tinham uma educação básica, apenas o necessário para suas tarefas e diversões de casadas. Após certo tempo, os jovens do sexo masculino eram enviados a faculdades (Eton ou Oxford, por exemplo), onde tinham no currículo as línguas Latina e Grega; Ciências, História, Literatura Inglesa e Línguas Estrangeiras foram adicionadas a partir dos anos 1880.
Desde aquela época o professor já era um coitado (nome do quadro: 'A Pobre Professora')! xD
"The Poor Teacher", por Richard Redgrave.
Vamos à última observação: a moda (sem me estender, pois já existe dois blogs sobre isso, da Behrens e da Rafaela). Especialmente por conta da religião, a moda era a de vestidos fechados do pescoço ao pé (indo além, inclusive). A parte do quadril, na moda vitoriana, era um problema para as mulheres, por ser muito larga; era difícil acomodar-se nos assentos com tantos tecidos para ocupar espaço. Vestidos que deixavam o colo à mostra eram utilizados basicamente em eventos sociais - o cotidiano não permitia o uso deles. A moda masculina não costumava ser tão cheia de complicações, se restringindo a coletes, gravatas, longas casacas... Ou seja, peças que ainda hoje persistem no armário dos homens, ainda que levemente adaptados.

Referências:
KarenWhimsy.com - pelas imagens sem legenda embaixo.
VictorianWeb.org - pelas imagens "The Poor Teacher" e "Social Perseverance".
Fashion-Era.com - pelas imagens restantes e pela maioria das informações.
Emma - A Victorian Romance (ou "Eikoku Koi Monogatari Emma"), mangá de Kaoru Mori - porque apesar das liberdades artísticas, as notas históricas me ajudaram a complementar o material. Eu não disse que tinha mangá de tudo quanto era assunto possível?;D

Bem, por enquanto é isso (ufa!)...;D
Próximo tópico: A Classe Baixa.

Jaa!o/