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segunda-feira, 23 de abril de 2007

O Japão e o Século XIX (II)

Paramos na unificação. Bem, na verdade nas minhas considerações babacas que incluíram até o Slam Dunk, que não tem nada a ver com história ou século XIX...xD
Devemos continuar no que veio depois. Puxa, lendo agora, essa frase ficou tão óbvia...^^'
Err... Ok, vamos lá!o/



Período Edo.
Ano... Sumimasen...

A Era Edo ou Tokugawa (1603 - 1868)

Em 1603, Tokugawa Ieyasu estabelece o início do xogunato de seu clã, que irá durar mais de 2 séculos. Uma dita "era de paz", pois não há aqueles conflitos civis generalizados entre os clãs que assolavam o Japão anteriormente. Mas qual era o porquê dessa ausência de conflitos? Repressão imediata e violenta, claro.:D
Tokugawa Ieyasu era agora o "Generalíssimo" (Shogun) da nação. O nome do período em que seu clã governou ficou conhecido por "Era Edo" porque o governo foi estabelecido... em Edo - atual Tokyo!:D
O regime adotado era o feudalismo, em que haviam sido estabelecidas rígidas regras entre os daimyôs (suseranos), samurais (vassalos) e os lavradores (servos).
Nessa época, todos os estudos e publicações que pudessem contestar o poder do Shogun foram proibidos. Depois de alguns anos, até mesmo os portos japoneses foram fechados ao mundo para que fosse evitada a incursão de pensamentos subversivos vindos do exterior. Os únicos estrangeiros permitidos de comercializar com a Terra do Sol Nascente eram os holandeses, que ainda assim ficavam restritos ao porto de uma pequena ilha, Dejima. O Cristianismo, que andava colocando as asinhas de fora no país, foi proibido; muitos de seus seguidores foram mortos ou convertidos ao Budismo e Shintoismo a força...

A fim de evitar rebeliões e conspirações, os senhores feudais (daimyôs) foram escolhidos a dedo pelo primeiro Shogun dessa época. Não apenas isso, a enorme precaução de Ieyasu consistiu em fazer cada um dos governantes locais se apresentarem no castelo de Edo para executarem serviços governamentais e fazerem investimentos em obras públicas, no período de um ano (ano sim, ano não... o.O); como os investimentos em si, a viagem, a estadia e as roupas cerimoniais para tal ocasião custavam caro, essa ação tinha por objetivo fazer os daimyôs se ocuparem financeiramente, de modo a nunca conseguirem aplicar dinheiro em exércitos paralelos ao do "Generalíssimo". Mas como precaução e caldo de galinha nunca fazem mal a ninguém (só à galinha - e a pessoas alérgicas a ela), o Shogun ordenou que alguns membros das famílias dos governantes regionais vivessem ali na capital; com isso, ele tinha reféns para usar, caso algum dos daimyôs se revoltassem. Espertinho esse Ieyasu, nee?o.O

Os samurais eram uma classe abaixo dos daimyôs, sendo vassalos que usavam sua espada a favor de seus suseranos. Se você já viu filmes, documentários, livros ou qualquer coisa assim, pode lembrar que a própria palavra "samurai" significa justamente "aquele que serve". Tais guerreiros sobreviviam de suas relações com os senhores feudais; geralmente eram pagos com arroz e privilégios por seus serviços, mas não podiam possuir terras. Esse tipo de situação obrigava os samurais a escolher entre abandonar a espada e tornarem-se simples aldeões, ou a servir algum senhor de terras.
Em geral, esses guerreiros eram relativamente cultos (sabiam algo de caligrafia e artes, e muito de manejar a espada) e viviam sob a filosofia do Bushido, literalmente, "o caminho daquele que serve", uma vez que "bushi" é um quase-sinônimo de "samurai". Esse código de ética não-escrito, tratava a morte como uma maneira de perpetuar a vida... Mas como dizia o Cap. Queiroz, nosso professor de Filosofia: "Tá, mas que bicho é esse"?:)
Pela máxima do bushido, "a vida é limitada, mas o nome e a honra do samurai são perpétuos". Portanto, morrer era uma honra, especialmente se fosse em conflito. Esse era o tipo de pensamento que fazia esses guerreiros tão eficientes em campo de batalha; afinal, se você tão tem nada a perder morrendo, por que se poupar nas lutas?:)
Vocês também já devem ter ouvido falar no harakiri (hara = barriga, kiri = cortar), no qual o samurai derrotado utilizava um tantô (adaga) para cortar a barriga, ajoelhado, enquanto, algumas vezes, o inimigo cortava a sua cabeça com uma katana (espada longa). Na realidade, harakiri é uma palavra que demonstra mais a visão ocidental do que a oriental sobre tal ato. A palavra para todo o ritual que se passava é seppuku, e ele acontecia quando o guerreiro era derrotado em campo de batalha (aí, em geral, era seguido da decapitação), ou quando falhava em servir ao seu suserano (nesse caso, a morte era lenta e dolorosa, pois o bushi devia demonstrar seu tremendo autocontrole em relação à dor, não só enfiando a espada na barriga, como puxando-a para cima o máximo que conseguisse).
Quando um homem se tornava samurai, toda a sua família deveria servir ao daimyô e se submeter às regras deles. Se o guerreiro falhasse com o seu senhor, a família inteira deveria acompanhá-lo no ritual do seppuku, para que a honra fosse lavada... Samurais desgarrados, que abandonavam seus daimyôs, eram considerados párias, sendo aí chamados rounins.
As pessoas dessa classe não eram habitantes do campo, mas citadinos, embora vivessem às custas de uma classe social bastante reprimida por eles próprios: os lavradores.

Os camponeses, lavradores e aldeões eram a base da hierarquia social. Como nem os samurais (que nada produziam), nem os daimyôs, funcionários do governo, pagavam impostos, já se pode supor quem arcava com os gastos de tudo... Sim, como é de praxe, muda-se o país, a cultura, a língua e o lado do mundo... mas a classe baixa é sempre a mesma explorada e prejudicada...¬___¬
Bem, se você ainda está lendo e absorvendo esse blog, deve lembrar que lá nas batalhas de unificação, um cara chamado Toyotomi Hideyoshi desarmou a população. Isso já foi uma mão na roda para o governo Tokugawa, que estabeleceu regras ainda mais rígidas sobre a população. Os lavradores eram obrigados a pagar os impostos com 50% da produção (sendo assim obrigados a diminuir o próprio consumo de arroz)! Além disso, se o governo requisitasse algum serviço gratuito dos lavradores, eles deveriam fazê-lo...:P
Não à toa, o final da Era Tokugawa ocorreu por, entre outras coisas, revoltas camponesas...
Por fim, os últimos integrantes da hierarquia japonesa eram os comerciantes. Na teoria. Na prática, financeiramente, os mercadores estavam em ascensão constante como classe - até mesmo mais do que os próprios samurais, colocados no topo mas, muitas vezes, miseráveis.

Castelo de Osaka, na primavera.
Castelo de Osaka, onde os inimigos de Tokugawa foram eliminados no início do regime.
O Fim da Era

Como já deu pra perceber, a "paz" existente nesse período era algo forçado. Existiram, sim (e em grande quantidade), rebeliões provocadas pelo povo.
Primeiro por decorrência da situação entre as classes. Os samurais, por nada produzirem, dependiam exclusivamente dos daimyôs para tudo. Não cresciam financeiramente porque eram vassalos, mas dependiam eternamente do trabalho executado pelos lavradores de terra, possuindo domínio (ou seja, podendo cobrar impostos) sobre eles. A classe dos mercadores, que deveriam permanecer lááá embaixo na pirâmide hierárquica, estava se desenvolvendo e superando os samurais em termos de recursos financeiros, pois o governo se utilizava de uma política favorável à alta produtividade e ao uso da moeda corrente na época - algo que, diga-se de passagem, contrariava todo o sistema feudal.
Os samurais então, para conseguirem manter o seus luxos e se igualarem à burguesia, cobravam tributos e mais tributos dos camponeses, cada vez mais miseráveis. Logo, ocorreram grandes ondas de fome no país, que resultaram em saques e situações de caos. Foram efetuadas várias reformas durante essa Era, mas nenhuma delas resolveu efetivamente a questão social. A decadência dos samurais foi inevitável; a situação de relativa paz (ou seja, não-existência de guerras civis) havia tornado muitos desempregados e desocupados. Alguns para sobreviverem se dedicaram ao artesanato, outros viraram meros guarda-costas de daimyôs, houve os que se tornassem bandidos, e ainda alguns venderam a própria espada (considerada a alma do bushi) para conseguirem dinheiro.
Fora a situação social, que já havia chegado num limite, o outro problema do governo dos Tokugawa veio do exterior: Estados Unidos, França e Inglaterra estavam desenvolvendo a indústria. Os três concorriam entre si. Estavam sedentos por arranjar mercado consumidor - e por que não tentar naquele arquipélago que se encontrava, até então, isolado do mundo? Pois é. O Japão estava, literalmente, entre a cruz e a espada...o.o
Os movimentos pela restauração imperialista, nacionalistas e xenófobos estavam divididos entre se ocupar da reforma que modificaria o sistema de governo japonês e tocar os estrangeiros (já beneficiados com a abertura meio forçada dos portos, em 1851, por Matthew Perry, comodoro norte-americano) pra longe dos portos japoneses... O que fazer primeiro? A idéia original era primeiro dar um trato nos gaijins, depois se ocupar da reforma. Contudo, ao se darem conta do poderio estrangeiro, os japoneses optaram por fazer a restauração imperial primeiro.
Para isso, ocorreu a união entre senhores feudais de diferentes partes do país, que, marchando contra o shogunato (bakufu) de Tokugawa, angariaram tantos aliados para suas tropas revolucionárias, que Tokugawa Yoshinobu, o último Shogun, e seu exército, teve que reconhecer, em 1867, a derrota e entregar o poder ao Imperador Meiji.

Daishô, as armas dos samurais.
Tantô (adaga), wakizashi (espada curta) e katana (espada longa).
Ufa!
Agora, minhas considerações!\o/
1) Sobre o fechamento dos portos, no início do período: pense nos nossos antigos e queridos colonizadores, os portugueses. Bem, ao chegar no Japão, eles muito provavelmente enxergaram os japoneses quase como os nossos índios daqui, uns bobos úteis: "vamos difundir a fé cristã e colonizá-los, oba"! Entretanto o povo nipônico, diferentemente do indígena, não era ingênuo, primitivo e totalmente desunido. Ainda assim, os europeus encontraram a brecha que precisavam para converter mais de um pessoa à sua religião; muito espertinhos, eles perceberam que se incutissem as idéias católicas na cabeça do daimyô e o convertessem, o povo, os samurais, os lavradores, seguiriam-no. E foi isso que aconteceu. Sim, a religião cristã vingou entre muitos japoneses e se tornou um problema para o governo, que descobriu o que os portugueses e espanhóis andavam fazendo com as Américas, e, conseqüentemente, qual era o plano para o Japão - a Igreja já até arrecadava impostos nos lugares dos convertidos... P*to da cara (com o perdão da expressão), o Shogun tocou pra fora ou mandou matar muitos dos estrangeiros mal-intencionados e dos fiéis, aproveitando pra fechar os portos e deixar claro que o país não era a casa da mãe Joana. Mas os camponeses, que também já tinham assimilado a história de Jesus, da Virgem Maria e de todo o lero-lero católico (além de estarem saturados dos impostos a pagar), revoltaram-se. A perseguição aos cristãos só serviu para tornar o povo ainda mais fanático, o que resultou na Revolta de Shimabara (lugar que concentrava os católicos), em 1637. Como após a revolta ainda persistiam alguns cristãos, o governo continuou com sua perseguição, chegando a reconverter muitos, sob tortura, ao shintoismo ou budismo. Os católicos remanescentes praticavam a adoração escondida.:O
2) Apesar do início do governo ter se estabelecido em Edo, em meio a esses séculos, a capital passou para Kyoto; não me perguntem a data, mas tive que deduzir isso porque, apesar de não encontrar as datas exatas, notei que a capital passa para Edo (Tokyo), mais uma vez, quando acaba o shogunato Tokugawa... Vai entender...u.ù
3) A hierarquia (sempre ela...) em resumo (e teoria), do maior ao menor: Shogun, daimyôs, samurais, camponeses/aldeões e mercadores. A família Imperial sempre existiu, mas, nesse período, não era nada além de uma figura decorativa. O que foi crescendo nos japoneses, o sentimento nacionalista, é o que trouxe à tona o desejo de serem governados por um Imperador, alguém de linhagem divina, e não um ditador militar.
4) Os samurais, figuras conhecidas pelo mundo inteiro como símbolo da disciplina e honra japonesas, como você pode constatar, nem todos foram essa maravilha. Sim, pelos que seguiam o código de honra do Bushido, havia o respeito da população; mas também existiam aqueles corruptos que praticavam o abuso de poder e ganhavam o ódio dos lavradores. Ironicamente, o samurai mais admirado, até hoje, pelo povo nipônico, não serviu a um daimyô; era um pária, um desgarrado, um rounin. Falei dele no post passado: Miyamoto Musashi.
4) Como admiradora amadora (?) de arte, não poderia deixar de falar num estilo de pintura e gravura que se desenvolveu nesse período: o Ukiyo-e. Ukiyo, o mundo flutuante é uma idéia do zen-budismo; o conceito de que você e seu mundo são insignificantes dentro do Universo inteiro, de que cada pequeno momento é efêmero e a cada instante, tudo muda. Enfim, o "mundo flutuante" é nada mais, nada menos que... o mundo de agora! Em Ukiyo-e, o ideograma "e" significa "retrato", "desenho", "ilustração". Então "retratos do mundo flutuante" eram gravuras que mostravam determinado momento ou situação cotidiana das cidades; não mostravam fatos históricos, mas atividades de entretenimento, da multidão e de paisagens naturais, coisas que, um segundo após terem começado a ser retratadas, já haviam mudado. Uma ótima representação da idéia desse movimento foi a obra de Hokusai (um dos principais artistas da época) entitulada de "36 Vistas do Monte Fuji" (Fugaku Sanjuu-Rokkei), em que o autor retratou a paisagem de diferentes ângulos, em diferentes épocas do ano.

Exemplo de Ukiyo-e.
"Por Trás da Grande Onda, em Kanagawa", de Hokusai.
Crianças, no próximo post vou chegar finalmente no ponto de interesse: a Era Meiji, no século XIX, nessa mesma hora, nesse mesmo canal.
Jaa!o/

domingo, 22 de abril de 2007

O Japão e o Século XIX (I)

A avaliação do blog já foi feita e não tive tempo para falar do meu assunto de maior interesse: o Japão no século XIX.:P
Mas gosto TANTO desse assunto que resolvi falar dele mesmo após a conclusão do bimestre. Meu único empecilho foi a época de AEs (Avaliações de Estudo). Como ela, graças a Deus, já foi encerrada, pude me dedicar aos textos que comecei um pouco antes...
Nihon no rekishi wo benkyoshimasshou ka?;D
[Vamos estudar a História do Japão?;D]
História japonesa.^^
Hai!\o/
Bem, iniciando esse post, terei que esclarecer que o Japão teve um século XIX (no sentido de avanços e mudanças) tardio em relação à Europa. E como a História japonesa não faz parte do nosso currículo nas escolas, vou voltar um pouco no tempo até chegar no ponto de interesse, que é a Era Meiji.

Pra início de conversa, a história desse país é dividida em vários períodos (e se você for procurar em fontes diferentes, como eu, vai perceber que sempre há controvérsias nas divisões cronológicas; portanto confiem, por hora, nessa daqui...ú.ù):

*Era Jomon (antes de 300a.C.), na qual os homens viviam de caça e pesca, sendo nômades, mas aos poucos começaram a se fixar em aldeias;
*Era Yayoi (300a.C - 300d.C.), quando começa o cultivo de arroz e há introdução de instrumentos de metal no arquipélago, além de começarem a surgir as diferenças sociais;
*Era Kofun (300 - 645), em que surge a aristocracia, o império baseado na mitologia e a primeira Constituição japonesa, assim como a introdução do budismo no país;
*Era Asuka (645 - 710), na qual é definida a organização política, o sistema tributário, etc., havendo também promulgações e vários códigos de leis.
*Era Nara (710-794), no qual houve transferência da capital imperial de Asuka para Nara, difusão do budismo pelo imperador e elaboração das mais antigas obras literárias do país, o Kojiki e o Nihongi;
*Era Heian (794-1185/1192), quando a capital foi transferida para Kyoto (Heiankyo, a "capital da paz"), os japoneses começam a ter uma cultura própria após anos assimilando a cultura chinesa, criam-se os kanas (alfabetos fonéticos) que possibilitam o florescimento da literatura e da arte entre os nobres;
*Era Kamakura (1185/1192 - 1333), em que surge a classe dos samurais (odiáveis coletores de impostos, nessa época), o governo militar dos shoguns ou "generais" (o xogunato), o início do feudalismo, e as tentativas frustradas de invasão dos mongóis, barradas duas vezes pelos kamikazes ("ventos divinos", nesse contexto FURACÕES de verdade, e não guerreiros suicidas...o.O);
*Era Muromachi ou Ashikaga (1333 - 1582), na qual aconteceu a difusão do , teatro de máscaras, e da cerimônia do chá, a reabertura do intercâmbio comercial com chineses (forçada pelo surgimento dos piratas nipônicos), o primeiro contato com os portugueses (conseqüentemente com as armas de fogo e com o cristianismo), inúmeras guerras civis - chegando a existir dois imperadores governando no mesmo período -, e o poder exacerbado dos daimyôs (senhores de terra), devido à incompetência administrativa do governo.

Parando nesse período de guerra civil e caos, vou me aprofundar na unificação do país, para abordar, na próxima postagem, a Era Tokugawa (que de tão longa vai ter que ganhar um post especial...:P).

Byodoin Phoenix Hall.
Byodoin Phoenix Hall, construído na Era Heian.

A Unificação e a Era dos Ditadores (1582 - 1600)

A unificação do Japão, após o período de guerra civil se deu por conta de três grandes generais: Oda Nobunaga, Toyotomi Hideyoshi e Tokugawa Ieyasu.
Oda Nobunaga, um daimyô do norte, excelente estrategista, em 1568, vence todos os seus adversários e marcha em direção à capital fazendo-se nomear shogun. Suicida-se em 1582 após ter sido atacado por um de seus próprios generais, e acaba não finalizando a centralização do poder nipônico.
Quem dá continuidade à unificação é Toyotomi Hideyoshi, seu braço-direito, de origem humilde (filho de camponeses), porém um exímio estadista. Aliás, o que há de mais interessante na biografia de Hideyoshi é justamente o fato de que ele começou sua carreira ao lado de Nobunaga como um simples criado; devido à sua inteligência, gradualmente atingiu o posto mais alto no comando das tropas de Oda. Toyotomi é responsável pelo desarmamento da população em geral (exceto dos samurais) e pela invasão da Coréia.
Com a morte de Hideyoshi, um dos vassalos do falecido ditador se destaca politicamente: Tokugawa Ieyasu. Esse, entretanto, possui um rival de peso - o filho do morto, Toyotomi Hideyori. De peso porque muitos senhores feudais também não gostam nada de todo o poder que Tokugawa tem... E o que eles fazem? Apoiam o filho do ditador-cadáver. A tensão cresce a ponto de se tornar um conflito militar.
O embate decisivo é a sangrenta e famosa (pra quem assiste animes ou lê mangás, em geral...^^') batalha de Sekigahara, em 1600, da qual Ieyasu Tokugawa sai vitorioso com relativa facilidade.


Kamikazes.
À esquerda, o que fizeram os verdadeiros kamikazes. À direita, pilotos da Segunda Guerra.

Fazendo uma pausa até o próximo post, algumas considerações minhas sobre o texto, caso tenha passado despercebido...^^
1) Kamikazes, os "ventos divinos" (kami = deus; kaze = vento) da Era Kamakura foram... ventos! Sim, por um estranho milagre, a dominação japonesa pelos mongóis não ocorreu, justamente por culpa do fator natural (e, como foi considerado, divino). Já na Segunda Guerra Mundial, quando o Japão enfrentava os Aliados com recursos muito menos desenvolvidos, a fim de levantar a moral dos combatentes, essa situação histórica foi trazida à tona pelo governo. Tanto é que hoje a maior parte do mundo, ao escutar o nome "kamikaze", lembra-se dos pilotos nipônicos que jogavam em um ato suicida o próprio avião contra os navios aliados...
2) Caso você, leitor suuuuper-observador (;D), tenha pensado: "Meu Deus, o filho de Toyotomi Hideyoshi herdou o nome do pai, mas não o sobrenome; que bizarro!", eu digo não. Não, ele não herdou o nome e perdeu o sobrenome. No Japão, o nome da família vem primeiro, seguido do nome da pessoa. O que, aliás, me remete à Biologia, na qual o nome específico é composto primeiro pelo nome do gênero, depois pelo epíteto específico... Ai,ai,ai... Essas AEs...T_T
3) Se você se interessa por cultura japonesa em geral, por samurais, e etc., provavelmente ouviu falar num famosíssimo samurai, sobrevivente da Batalha de Sekigahara, sobre o qual já foram feitos vários livros, documentários, jogos de videogame, mangás e quinquilharias: Miyamoto Musashi. Considerado um herói nacional, Musashi é reconhecido por sua habilidade e estratégia descomunal com a espada (criou um estilo próprio chamado Niten-Ichi, uma espada em cada mão) e por seus escritos sobre o Bushido (Gorin-No-Sho, "O Livro dos Cinco Anéis"); por seu estilo de vida que unia o manejo da espada e as artes. Sobre ele, há um mangá publicado no Brasil pela editora Conrad: Vagabond, do autor Inoue Takehiko - para o pessoal do basquete, esse mesmo autor escreveu um mangá sobre o assunto, mais voltado para a comédia, o "Slam Dunk". Opinião minha: não li, mas só escuto elogios a respeito de Vagabond, que tem o traço mais realista do que aqueles que vocês conhecem através da mídia (ex.: Pokémon, Digimon, Speed Racer, Sailor Moon, Cavaleiros do Zodíaco, etc.). :)

Mangás de Inoue Takehiko.=)

Capas de "Vagabond" e "Slam Dunk", ambos de Takehiko Inoue.
Até a próxima, amiguinhos!xD
Jaa!o/

domingo, 1 de abril de 2007

Diversões Inglesas, George Du Maurier e a Punch!

Nessa postagem vamos ver alguns assuntos que despertaram a minha curiosidade em meio à pesquisa. Primeiro, as diversões dos ingleses; o que faziam eles no tempo livre?
Depois, temos três assuntos interligados: George Du Maurier, a revista Punch e as sátiras sociais promovidas por esses nomes (sendo que Maurier trabalhava na revista). Vamos lá!\o/

Diversão


Começarei pela música, afinal, era ela que mais aproximava e divertia os membros da sociedade inglesa. O interesse em música era tanto na Inglaterra que diversas cidades e vilarejos ingleses possuíam bandinha, coral e uma sociedade musical em geral. Como já foi citado no primeiro post, um dos requisitos para as senhoritas "casáveis" (como sinal de refinamento) era saber tocar um instrumento e até ter alguma habilidade com a voz... Isso porque, nas festas e jantares sociais, elas precisavam, de alguma forma, entreter os convidados. E por que não cantando?:D
Cantar era tão popular que existia pessoas que ganhavam a vida publicando folhetos com as letras de baladas românticas. Baladas são histórias em narrativa ou poema, com rimas e refrões - se com temas religiosos ou políticos, podem ser consideradas hinos. Basicamente eram historinhas de cunho patriótico ("Rule Britannia"), cômico ou poético ("Come Into the Garden Maud", por exemplo) musicados.
A popularidade dos "Music Halls" ("Salões de Música", traduzindo) se deve, além dessa paixão, ao fato de que a "sociedade de bem" vitoriana considerava muitas das idéias propostas no teatro pouco decentes... Sendo assim, a diversão mais prestigiada pelos homens ingleses era a ida a esses salões - atividade que durou até o fim da Primeira Guerra, quando foi substituída pelo cinema.
A dança, relacionada a, e decorrente da música, sempre fora praticada com sentido folclórico, de diversão e integração social entre indivíduos. A valsa (trazida de Viena por Johann Strauss) era a dança preferida pela classe alta, pela corte e, inclusive, pela Rainha Vitória, por ser elegante. Entretanto, danças folclóricas e tradicionais como as jig e as hornpipes eram muito apreciadas por todos. Um tipo de dança que estourou em 1840, tanto entre as classes ricas como as pobres foi a polca, dançada tanto nos jantares e reuniões chiques da alta sociedade, como nas tavernas e lugares freqüentados pela classe trabalhadora.

Senhoritas e seus dotes musicais.
"Airs and Graces", por Vernon Ward.

Homens "de bem" (leia aqui: "com dinheiro") podiam se divertir nos "jardins de prazeres", os Gardens, como Vauxhall e Cremorne - mulheres bem-criadas, contudo, jamais seriam vistas em um desses ambientes. O que acontecia nesses jardins? De tudo. Basicamente, comia-se, bebia-se, dançava-se, ouvia-se música, observava-se fogos de artifícios e pantominas. Além, é claro, da diversão com "mulheres decaídas".
Outra diversão masculina (da classe alta) era a caça à raposa. Pausa para a expressão da minha indignação.

Grrrrrr!
"Indignação", por eu mesma!

Ok, voltando ao assunto, Oscar Wilde definia esse "esporte" de uma maneira bem interessante: "a busca do incomível pelo indizível" ("the pursuit of the uneatable by the unspeakable")... O objeto de caça era o canídeo do gênero Vulpes porque o desmatamento havia tornado escasso o número de cervos, obrigando os perseguidores a procurar um outra alternativa. Uma vez que as raposas possuem hábitos noturnos, os caçadores, para início de conversa, tampavam todas as tocas a fim de manter os animais acima do chão. Depois, o que realmente acontecia era a perseguição de raposas por cães. Os ilustres cavalheiros/cavaleiros só seguiam seus animais de perto, e ainda montados em cavalos; dificilmente eles mesmos se utilizavam de uma arma.¬_¬
Falando em cavalos, as corridas de cavalos também tinham algum espaço entre as atividades dos ingleses do século XIX.

Os jardins de prazeres...
"The Dancing Platform at Cremorne Gardens", por Phoebus Levin.

Por último temos uma diversão bem "do povo": as feiras. Elas aconteciam em qualquer canto da Grã-Bretanha que tivesse população interessada. Vendia-se de tudo nelas, de comida a móveis e peças de vestuário e decoração. Mas a popularidade das feiras não se dava especialmente pelo fator "consumo". O que atraía pessoas a elas eram as atrações; o povo adorava (venhamos e convenhamos: em certos lugares, até hoje o povo adora isto...:P) as chamadas "aberrações", que nada mais eram que pessoas com malformações congênitas ou deformações adquiridas depois do nascimento (algumas vezes, justamente para poderem servir de "monstros" para os circos e feiras). Esqueletos ambulantes, obesos mórbidos, entre tantos outros. Aliás, existe um filme de 1980 chamado "O Homem-Elefante" ("The Elephant Man"), baseado na história verídica de Joseph Merrick (1862-1890), um cidadão inglês portador de uma doença rara (em 1976 acreditava-se ser neurofibromatose, mas estudos mais recentes dizem ser a doença a Síndrome de Proteu...) que havia provocado deformações em 90% de seu corpo, bem visíveis na cabeça, e por isso era tratado como aberração de circo. Sim, era isso que o "povão" apreciava nas feiras...¬_¬
E é por aqui que eu encerro as diversões vitorianas, para ir aos próximos assuntos.:]


George Du Maurier e a Punch


A revista inglesa Punch (Punch = Soco) é um ótimo material de retratação da sociedade vitoriana; mais do que o humor, a Punch investia em críticas políticas e sociais para existir. Foi idealizada em 1841 por Mark Lemon e Henry Mayhew, reunidos no Castelo de Edimburgo, com convidados da estirpe do jornalista Douglas Jerrold (com reputação de campanhas contra a pobreza) e John Leech, um estudante de medicina cujos desenhos haviam impressionado Mayhew. A revista foi fundada em 1841 pelos já citados Mayhew e Lemon, mais Joseph Stirling Coyne, que ajudou a financiá-la. Ainda nos anos 1840, vários membros da equipe já eram associados (amigos e conhecidos) do famoso autor Charles Dickens. A equipe colocava em suas revistas todo o cinismo com o governo, críticas à alta sociedade e ao modo como os trabalhadores eram tratados por seus empregadores. George Du Maurier começou a contribuir para a revista em 1860, integrando oficialmente a equipe em 1865.

Os ingleses se divertindo tristemente...:D
"The English Take Their Pleasure Sadly", por George du Maurier.

Mas... quem foi George Du Maurier?:D
Em 1834, nasce George Louis Palmella Busson Du Maurier (pequeno nome...), em Paris, França. Sim, na França - e foi isso que me chamou atenção... Bem, na verdade o escritor e ilustrador era filho de uma inglesa exilada na França pela sociedade, e neto de um francês trambiqueiro (por sua vez, fugido da França...), que, de tão trambiqueiro, acrescentou o "Du Maurier" ao nome para reforçar a idéia de seu "sangue aristocrático"... Aliás, George Du Maurier em pessoa cresceu em meio ao mito de que a sua herança genealógica remontava ao século XII. Tendo aprendido francês e inglês ao mesmo tempo, chegou a estudar Química na Inglaterra, embora tenha desistido rápido dessa carreira arranjada por seu pai, retornando à França e depois indo à Bélgica para estudar arte. Voltou a Londres em 1860 procurando emprego como ilustrador em revistas. Casou-se com Emma Wightwick em 1863, quando já estava crescendo profissionalmente como ilustrador e tornando-se reconhecido.
Seu trabalho na Punch rendeu uma coleção de mais de 130 desenhos sobre a sociedade inglesa. Bom, na minha opinião (que fique bem claro, porque não convivi com o cara pra dizer se é isso mesmo), acredito que o fato de ele ter sido francês pode ter sido um dos fatores que contribuíram para que seus desenhos fossem feitos criticando acidamente a sociedade inglesa, sem muito pesar. Afinal, tem a famosa e antiga rivalidade entre franceses e ingleses...

Feline Amenities, por George Du Maurier.
[Ilustração "Amenidades Felinas"]:
Srta. Tregushing - Oh, sim! Tem mares e céus tão adoráveis na Cornualha, além de rochas e cavernas, e as mais magníficas ondas que você possa imaginar, e...
Sra. Frou-Frou - Mas nenhum costureiro, eu suponho!


George Du Maurier também foi o autor de um best-seller da época: "Trilby". A protagonista da história, Trilby O'Ferrall, é uma linda garota meio-irlandesa trabalhando na França como modelo para artistas e lavadeira. Ela não tem absolutamente nenhum gosto musical ou habilidade para isso. Mesmo assim, o outro personagem memorável da história, Svengali, um vagabundo judeu, com ótimas habilidades musicais e um hipnotista irresistível, decide "enfeitiçá-la", transformando-a em uma diva aclamada, mas que só consegue cantar em transe, sob efeito da hipnose de Svengali. Quando Svengali sofre um ataque cardíaco em uma turnê de Trilby em Londres, ele fica incapaz de hipnotizá-la, e ela de cantar. Acredita-se que essa história tenha inspirado uma outra, tão famosa quanto, de Gaston Leroux: "O Fantasma da Ópera" (1909/1910).
Uma outra curiosidade sobre o autor e ilustrador: ele era pai de Sylvia Llewelyn Davies, mãe dos meninos Llewelyn Davies, que inspiraram o escritor J.M. Barrie a compor a famosa história de Peter Pan e da "Terra do Nunca" - relação que, aliás, é mostrada no filme "Em Busca da Terra do Nunca" ("Finding Neverland"), com algumas liberdades artísticas.

The Dancing Man of the Period, por George Du Maurier.
[Ilustração "Os Dançarinos da Época"]:
"Tens dançado ultimamente?"
"Dançado? Eu não! Tente me ver dançando em uma casa onde não há sala de fumar! Estou fora, certamente!"


Referências:
VictorianWeb.org - informações sobre a Punch e sobre George Du Maurier, além das imagens do ilustrador.
Fashion-Era.com - sobre diversões vitorianas e imagens que ilustram o tópico.
George Du Maurier - página da Wikipédia.
Trilby (novela) - página da Wikipédia sobre o livro.
Emma - A Victorian Romance - notas históricas sobre a caça à raposa.

Bem, por essa postagem é !\o/
Até a próxima, amiguinhos!xD

Jaa!o/